A insurgência em Cabo Delgado näo tem fim à vista e faz parte de uma lista de 10 conflitos preocupantes de 2021, diz um estudo do Projecto de Localização de Conflitos Armados e Dados de Eventos (ACLED), que segue a matéria em todo o mundo.
A insurgência, além de não ter um fim à vista, tem o potencial de piorar, diz o estudo, que considera fraca a resposta governamental no combate aos insurgentes, que iniciaram os ataques, em 2017, e dois anos depois viram o Estado Islâmico afirmar que são seus associados.
Na análise do ACLED, a combinação de “uma insurgência islâmica cada vez mais sofisticada, um número crescente de deslocados internos e surtos de cólera, bem como da COVID-19, expõem as limitações da capacidade do Governo em combater eficazmente o agravamento da insegurança”.
“Essas restrições, juntamente com as incursões dos insurgentes na vizinha Tanzânia, estão a empurrar o conflito de Cabo Delgado para um teatro cada vez mais internacionalizado”, lê-se no estudo.
O ACLED mostra o avanço dos insurgentes em 2020, com o registo de “1600 fatalidades na província (Cabo Delgado), três vezes mais do que em 2019".
No mesmo período, “os insurgentes demonstraram capacidade operacional de expansão territorial, com presença em 11 distritos, de Nangade a Ancuabe, no sul".
Com tal avanço, diz, as acções dos militantes representam "uma ameaça à infraestruturas criticas e colocam em risco o domínio territorial por parte das autoridades moçambicanas”.
Quanto ao ano 2021, diz o ACLED, “a ausência de uma estratégia sustentada sugere que uma campanha de ataques implacáveis continuará e as forças do estado serão limitadas a conter pontos quentes sem corroer a capacidade dos insurgentes”.
Por outro lado, sugerem os especialistas, “os militantes provavelmente continuarão a expandir geograficamente as suas operações, incluindo novas incursões na Tanzânia”.
Este estudo é publicado numa altura de crescente preocupação de investidores na área de gás, em Cabo Delgado, o que é, em parte, motivado pelas recentes incursões dos insurgentes.
Em Dezembro, os ataques de insurgentes forçaram a multinacional francesa Total a evacuar o seu pessoal, tendo de seguida o presidente Filipe Nyusi reunido com a liderança da empresa e garantido a protecção do investimento.
Por outro lado, Moçambique recebeu, recentemente, sinais de ajuda, no combate aos insurgentes, de países da África Austral, União Europeia e Estados Unidos.
A ajuda até agora divulgada incluirá a formação de militares moçambicanos no combate ao terrorismo.
De momento, reporta-se que as autoridades de Maputo têm recorrido ao apoio de empresas privadas de segurança na luta contra os insurgentes, com realce para a Dyck Advisory Group (DAG), da África do Sul.
Na lista dos 10 conflitos preocupantes analisados pela ACLED, além de Cabo Delgado constam o da Etiópia, opondo o governo federal e as tropas da Frente de Popular de Libertação do Tigray; a disputa de fronteira entre a Índia e Paquistão; a luta por mais autonomia da etnia Rakhine do Myanmar (antiga Birmânia); a violência de gangues e autoritarismo no Haiti; e a guerra no Iêmen.(x) Fonte: VOA