Ativista luso-angolano considera que "os crimes" e práticas repressivas da polícia e do Governo "têm os dias contados" em Angola. "O poder político arrisca-se a cair na rua", afirma.
"Espero que os dias 24 de outubro e 11 de novembro [em que a polícia reprimiu protestos em Luanda] tenham servido de algum tipo de lição para o poder político deixar de querer impor a sua vontade e usar a Polícia Nacional para servir de tampão, escondendo-se atrás dela para voltar a fazer o que tem feito", declarou o músico à agência de notícias Lusa esta quinta-feira (19.11).
Desde o mês passado, a polícia reprimiu fortemente duas tentativas de manifestação em Luanda, para reivindicar melhores condições de vida e eleições autárquicas em 2021.
Na sequência do último protesto, realizado no Dia da Independência, 11 de novembro, morreu um estudante, Inocêncio de Matos, em circunstâncias ainda por esclarecer.
Escalada da violência
"Estas práticas, estes crimes, têm os dias contados, as pessoas perderam a paciência e estão a perder o mais importante, que mantinha e assegurava essa forma de exercício do poder, que é o medo. Quando as pessoas perdem o medo, o caldo entornou e se o poder político não percebe que as pessoas estão no limite e à beira de perder o medo, o poder político arrisca-se a cair na rua", sublinhou.
Presidente em silêncio
Luaty Beirão defendeu que João Lourenço se deveria pronunciar sobre o assunto e que o comandante geral da Polícia Nacional, bem como o ministro do Interior, deveriam pôr o lugar à disposição.
"Num país que quer ser considerado normal estas práticas têm de passar a ser regulares, as pessoas têm de assumir as responsabilidade superiormente", salientou o 'rapper' conhecido como Iconoklasta, realçando que "o agente que disparou é o responsável material, mas existem outros".
"Infelizmente, o Presidente angolano, que é o responsável moral disto tudo (…), tem sido omisso quando há este tipo de situações", que, na sua opinião, "lesam gravemente a imagem do Estado de direito" e "mancham" a liderança e o discurso de abertura e de mudança de João Lourenço, sustentou.(x) Voz da America.