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quarta-feira, 17 fevereiro 2021 07:13

Maria e o bebé enfrentam subida do rio Umbeluzi em Moçambique

Maria Inês Maposse segura ao colo o filho Zacarias, de 04 meses, minutos depois de terem saído do local onde residem, Círculo Gimo, num barco a motor das forças armadas moçambicanas que está a dar apoio à população.

Azona ficou quase isolada com a subida do rio Umbeluzi devido às fortes chuvas dos últimos dias, deixando submersa a ponte de ligação à sede de distrito, a vila de Boane, a 40 quilómetros da capital, Maputo.

Maria Inês tem medo de que o mesmo aconteça às casas.

"É melhor fugir enquanto há tempo. Se ficássemos do outro lado, podíamos morrer afogados. Não vamos ficar aqui, esperar pela morte, não", explica à Lusa.

Agora, já na margem do lado de Boane, espera pelo marido para seguirem para casa de familiares até as águas baixarem.

Falta cerca de mês e meio até a época chuvosa e ciclónica amainar e Moçambique já foi sacudido por tempestades e um ciclone, no centro, sendo agora assolado por precipitação intensa, desde há vários dias, no sul.

Se nas principais avenidas da capital a vida decorre normalmente, a situação é complicada em muitos bairros precários dos subúrbios, assim como em zonas rurais das províncias de Inhambane, Gaza e Maputo.

As autoridades têm levantamentos em curso e estima-se que haja milhares de casas de construção tradicional inundadas, sobretudo em zonas baixas, além de estradas locais e pequenas pontes submersas ou com circulação condicionada.

Em Boane, um dos distritos afetados, a população está habituada ao cenário, entre outubro e abril (a época das chuvas), mas este ano "está a ser demais", conta Eulício Langa: chuva desta intensidade "só de 20 em 20 anos".

Mesmo assim, diz que já era tempo de ser erguida uma nova ponte para ligar a Círculo Gimo, uma travessia mais alta, que nunca ficasse sujeita à subida de caudal do rio Umbeluzi.

A força da corrente dá sinal de que ainda vai levar tempo até que se volte a ver o tabuleiro daquela que ali existe, por isso, o barco é a única forma de tirar a população do isolamento, apesar do medo que muitos têm em fazer a travessia.

"Teria sempre medo de ir no barco, mesmo sozinha. Imagina agora, com o meu bebé", diz Maria Inês.

"O barco é seguro, mas tenho medo. Só que não há como [fazer de outra forma]", diz Laura Cossa.

Esta habitante saiu de Círculo Gimo para ir comprar comida à vila, tal como muitas pessoas, que, entretanto, já enchem o barco para voltar, confiantes de que a água não vai chegar às casas.

Outros residentes usam o barco para chegar ao trabalho na vila, como Carlos Bernardo: "Desta vez isto encheu demais e assim está difícil", descreve.

A corrente e o vento não dão descanso aos elementos das Forças Armadas e de Defesa de Moçambique (FADM) que têm de serpentear entre as duas margens para vencer a força da água, por entre árvores de que só vê a copa - e o barco a motor lá completa mais uma ida e volta em menos de dez minutos com sete pessoas a bordo e carga.

Noutro troço do rio, noutra ponte, mais perto da vila, o cenário repete-se.

Uma das principais estradas entre Boane e Bela Vista, bastante usada por transportadores locais, também ficou submersa, só com os pilares de demarcação das faixas de rodagem à tona.

"Aí, não vale a pena passar, não dá para arriscar", diz Armando Macamo.

Ao lado, a nova ponte férrea, com o dobro da altura, está longe das águas e serve de alternativa para os peões, mas quem tem automóveis tem de ir procurar travessia noutras paragens.

São problemas recorrentes, diz a população que se junta à beira da placa tombada anunciando o rio Umbeluzi, também ela vergada pela força das águas.

Resta aproveitar a oportunidade para pescar, como o fazem dois jovens equipados com uma rede mosquiteira e que em cinco minutos saem da corrente com dezenas de minúsculos peixes.

As previsões apontam para uma melhoria das condições atmosféricas no sul do país a partir de quarta-feira, sem chuva e com o regresso do sol.(x) Fonte: Notícias ao Minuto

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