Há receio de eclosão de cólera e outras doenças diarreicas nas áreas onde estão a ser reassentados os deslocados internos, segundo o padre Edegard da Silva. As condições precárias podem propiciar o problema, alerta.
A igreja católica tem-se destacado no apoio às populações de Cabo Delgado que fogem dos terroristas. A DW África entrevistou o padre Edegard da Silva Júnior, também deslocado da sua missão em Muidumbe, sobre a situação dos deslocados no norte de Moçambique e das suas necessidades:
DW África: Qual é o ponto de situação dos deslocados internos?
Edegard da Silva (ES): Posso enumerar três aspetos deste contexto, um deles são os reassentamentos, muitos deles [deslocados] estão a ir para as áreas que o Governo está a preparar em diversos locais diferentes, há essa realidade nova. Depois, vem outra realidade triste para nós agora que são as chuvas, estamos no período de chuvas. E essas pessoas estão em locais muito frágeis, com casas de palha, outros em famílias, cujas casas são pequenas, ou as casas que constroem são de material muito frágil. Então, essa questão das chuvas nos preocupa muito neste momento. E o terceiro aspeto é o da saúde, tem-se multiplicado muito os casos de diareia e de coléra. Sabemos que são doenças que surgem no contexto da falta de água potável e das condições básicas de saúde. Então, esse é o quadro que a gente vive atualmente que nos preocupa.
DW África: Há algum trabalho preventivo junto das autoridades para que os deslocados não sejam mais uma vez afetados?
ES: De forma tímida porque o sistema de saúde do país é fragil, o número de médicos, de equipamento [é muito baixo]. Isso dificulta muito, sobretudo o [baixo] número de médicos. Às vezes no posto de saúde o atendimento é feito por um técnico que chega dá algumas palavras e comprimidos, mas que não são a solução. Então, encontramos uma debilidade que é própria do país, das dificuldades do país.
DW África: Em relação às crianças, já há escolas para elas? Estão a ter alguma encaminhamento nesse sentido?
ES: Há uma realidade que é a Covid-19, então aqui temos de trabalhar as duas dimensões: a da guerra e a do Covid-19. Devido à Covid-19 não se tem ainda a noção do que vai ser o ano escolar, está tudo suspeito. E como cresceu muito o número de casos de dezembro até agora, o Presidente da República passou decretos muito severos que suspenderam celebrações presenciais em escolas, então não se sabe quando vai recomeçar. Agora, para quem estava no último ano escolar, esses fizeram o exame final e lhes foi dada uma certa atenção especial, [falo dos] deslocados, inslusive com a condição de fazer uma segunda prova caso não conseguisse comparecer na data prevista.(x) Fonte: DW