Berlim diz que acompanha a situação na província moçambicana e tem contactado organizações locais. Para o partido "os Verdes", na oposição, isto não chega: é preciso ajudar Maputo a alcançar uma solução para o conflito.
Uwe Kekeritz, do partido alemão "os Verdes", é um dos poucos deputados alemães especializados em questões africanas. Em entrevista à DW África, diz que "a situação em Moçambique é preocupante" com "a violência a aumentar" na província nortenha de Cabo Delgado.
"As pessoas sentem-se abandonadas pelo Governo. Depois dos danos devastadores, causados pelos furacões nos últimos anos, a população está agora a sofrer com os ataques terroristas brutais", lamenta.
Foi por isso que o deputado, de 67 anos, que chegou a trabalhar como professor cooperante nos Camarões, convenceu o grupo parlamentar do seu partido a avançar, no início do ano, com um pedido de explicações oficial dirigido ao Governo alemão, liderado pela chanceler Angela Merkel.
"Governo observa a situação"
Como avalia Berlim a situação na província moçambicana de Cabo Delgado? Estará a cooperação alemã empenhada na melhoria da situação dos deslocados internos?
A resposta do Governo alemão é vaga, como aliás todas a reações às 30 perguntas dos "Verdes": "O Governo observa a situação humanitária em Cabo Delgado e está em comunicação constante com as suas organizações parceiras locais".
O deputado da oposição esperava mais do Executivo de Merkel. Embora "o Governo federal alemão também entenda que a população está a ser empurrada para os braços dos terroristas, a cada dia que aumenta a pobreza", está "a fazer muito pouco para evitar que isso aconteça", diz Uwe Kekeritz,
Na avaliação do deputado, "a Alemanha praticamente não se envolve na região".
"Não há cooperação para o desenvolvimento em condições, nem há ajuda humanitária de forma significativa. E o Governo federal alemão também não faz nada para promover a prevenção ou resolução de conflitos. Seria, portanto, gratificante se a União Europeia pudesse contribuir para uma solução pacífica para o conflito", propõe Kekeritz.
Segundo o deputado da oposição, a Alemanha deveria intervir diplomaticamente, no sentido de promover uma solução para o conflito. No entanto, na sua resposta, o Governo alemão desvaloriza as críticas, salientando que procura sempre o diálogo com Maputo, tanto a nível bilateral, como também através de canais da União Europeia. E "cabe ao Governo moçambicano apresentar pedidos concretos de apoio, assim como aceitar ofertas concretas de ajuda", reza o documento de Berlim, a que a DW África teve acesso.
O papel da indústria extrativa
O partido alemão "os Verdes" tem uma abordagem muito crítica relativamente à exploração do gás natural e de outros recursos naturais na região, lembra o deputado Uwe Kekeritz, que vê no negócio das indústrias extrativas um dos motivos para o agravamento do conflito.
O Governo alemão não concorda e diz que, do ponto de vista de Berlim, "as matérias-primas na região não são um motor do conflito militar em Cabo Delgado".
No entanto, o deputado da oposição insiste: "A extração de minérios desempenha um papel muito importante na região. Mas estamos a ver que as indústrias extrativas destroem o sustento das pessoas e levam à migração e à miséria. Ao mesmo tempo, a população local não beneficia com os lucros que vão principalmente para as empresas estrangeiras."
"Em vez de depender de soluções militares e investidores estrangeiros", continua Uwe Kekeritz, "o Governo moçambicano deveria finalmente levar a sério a situação do povo de Cabo Delgado. Deveria permitir o desenvolvimento sustentável e fazer tudo para evitar uma nova escalada da violência".
RENAMO espera posição alemã
O maior partido da oposição em Moçambique, a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), saúda o facto de o conflito armado em Cabo Delgado já ter chegado ao Parlamento alemão.
O deputado da RENAMO, Alberto Ferreira, afirma em entrevista à DW: "Eu fico relativamente contente por saber que o partido dos Verdes questiona o Governo alemão por inação. A Alemanha é sempre o líder dentro da Europa e, hoje, distancia-se e não se pronuncia efetivamente. Temos Portugal e França que se pronunciaram e a Alemanha ainda não."(x) Fonte: DW