Grupos 'jihadistas' islâmicos estão a aproveitar a instabilidade causada pela pandemia de covid-19 para lançar ataques e conquistar território em países africanos como Moçambique, alerta o relatório do Índice Mundial do Terrorismo 2020 publicado esta quarta-feira (25.11).
O registo de ataques violentos durante este ano em países como Moçambique e Nigéria é um reflexo do aumento da atividade na África subsaariana de grupos 'jihadistas' associados ao Estado Islâmico (ISIL), confirmou Thomas Morgan, investigador assistente do Instituto de Economia e Paz, baseado em Sydney.
"A maioria da atividade tem sido concentrada na região do Sahel, mas temos observado este aumento recente de terrorismo em Moçambique. Existe ambiguidade sobre quais são os grupos responsáveis e em que altura se tornaram afiliados ao ISIL", afirma.
E para Thomas Morgan, "parece confirmar-se que é o ISIL que está por detrás da violência na África subsaariana e que a violência continuou a aumentar em 2020, mesmo durante a pandemia de Covid-19", afirmou durante a apresentação do relatório, feita por videoconferência.
Aumento de mortes em mais de 140%
De acordo com o relatório publicado hoje, produzido desde 2003 para estudar as tendências do terrorismo internacional, Moçambique registou 319 mortes em 2019 resultado de ataques terroristas, mais 140% do que no ano anterior, atrás do Burkina Faso (593 mortes, mais 600%).
Isto fez Moçambique subir oito posições para a 15.ª posição do Índice Mundial do Terrorismo 2020, publicado esta quarta-feira (25.11), passando a estar no grupo de países que sofrem um impacto alto do terrorismo, juntamente com a Somália, Paquistão ou Sri Lanka.
Este impacto não se resume à mortalidade, mas também diz respeito à repercussão indireta na economia e investimentos e custos associados com segurança no combate ao terrorismo.
Os autores acreditam também que a instabilidade que grupos terroristas estão a explorar em Moçambique também está ligada à falta de resiliência socioeconómica para enfrentar ameaças ambientais.
"Países mais suscetíveis a choques destas ameaças nos próximos 30 anos, muitos são países frágeis e já em conflito. Existe uma relação histórica entre a escassez de recursos e conflito", vincou o presidente do Instituto de Economia e Paz, Steve Killelea.
O mais afetados da CPLP
Moçambique é o país de língua portuguesa mais afetado pelo terrorismo, segundo o Índice Mundial do Terrorismo 2020, seguido por Angola, que desceu duas posições para o 54.º lugar na classificação geral, mantendo-se no grupo de países com um baixo impacto de terrorismo.
Guiné-Bissau e Guiné Equatorial mantiveram-se na 135.ª posição, no grupo de países onde o terrorismo é considerado não ter qualquer impacto. Cabo Verde e São Tomé e Príncipe não estão incluídos no Índice.
A província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, é há três anos alvo de ataques por grupos armados, provocando uma crise humanitária com cerca de duas mil mortes e 435 mil deslocados internos.
O número de ataques na província onde avança o maior investimento privado de África, para exploração de gás natural, registou uma intensidade reforçada desde o início deste ano, continuando um agravamento registado no ano passado. (x) Fonte:DW