"OExército etíope cortou a estrada que conduz à fronteira sudanesa na localidade de Humera [a 20 quilómetros da fronteira], e aqueles que procuram chegar ao Sudão devem evitar a estrada principal e passar pelos campos sem serem vistos pelos soldados", disse Tesfai Burhano, que tinha acabado de chegar a Lugdi, à agência France-Presse.
O posto fronteiriço estava vazio e não era visível qualquer soldado etíope. Enquanto esteve presente na zona, um repórter da agência noticiosa francesa viu cerca de 10 refugiados a atravessar a fronteira.
De acordo com o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), o número de refugiados etíopes a chegar ao Sudão diminuiu drasticamente na última semana.
Na quarta-feira, o ACNUR contabilizou 718 chegadas, ao passo que no dia 21 este número tinha alcançado os 3.813.
O primeiro-ministro da Etiópia, Abiy Ahmed, lançou em 04 de novembro uma operação militar na região de Tigray (norte do país), após meses de tensão crescente com as autoridades regionais da Frente Popular de Libertação do Tigray (TPLF, na sigla em inglês).
Desde então, a região tem sido palco de ofensivas militares por ambas as partes, com o disparo de foguetes e de incursões para a captura de cidades.
Segundo o ACNUR, 42.651 refugiados abandonaram a região em direção ao Sudão e quase 100.000 refugiados eritreus em campos no norte de Tigray ficaram expostos às linhas de fogo.
Organismos independentes relataram o massacre de pelo menos 600 civis.
A comunidade internacional, incluindo o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, e a União Europeia, tem manifestado grande preocupação com o conflito e o seu impacto humanitário, enquanto insiste nos apelos ao diálogo.
Abiy Ahmed, prémio Nobel da Paz em 2019, tem rejeitado o que apelida de "quaisquer atos de ingerência indesejados e ilegais", afirmando que o seu país irá lidar com o conflito sozinho.
Durante o dia de hoje, Ahmed disse ter dado ordens ao Exército para avançar sobre Tigray, na sequência do ultimato de 72 horas para a rendição dos líderes regionais.
O Sudão é um dos países mais pobres do mundo e conta com mais de um milhão de refugiados no seu território.
A crise em Tigray ocorre num momento em que o Sudão atravessa uma difícil transição, desde a destituição, em abril de 2019, do antigo Presidente sudanês Omar al-Bashir.
Atualmente liderado por um Governo de transição, as autoridades sudanesas procuram reconstruir a economia do país, prejudicada por décadas de sanções pelos Estados Unidos, que isolaram o Sudão da comunidade internacional e vedaram o acesso a apoios financeiros de instituições internacionais, má gestão pública e conflitos armados sob a liderança de Al-Bashir.
Além destes fatores, o Sudão enfrentou, este ano, severas inundações em grande parte do país e, como o resto do mundo, a pandemia da covid-19, doença causada pelo novo coronavírus SARS-CoV-2.
Fonte: Mundo ao Minuto