Presidente moçambicano deixa recado a críticos: "Em nenhum momento" o país recusou ajuda na luta contra o terrorismo. Nyusi teve encontros bilaterais em Paris para consolidar apoios nos setores
Foi a Cimeira Sobre o Futuro das Economias Africanas, organizada pelo Presidente Emmanuel Macron, que levou Filipe Nyusi a Paris. Mas foram os encontros bilaterais, ainda antes do evento desta terça-feira (18.05), que marcaram a deslocação do Presidente de Moçambique.
A manhã começou com o rescaldo do encontro da véspera com o presidente do conselho de administração da Total, que suspendeu os trabalhos na província na sequência dos ataques a Palma, em março. Nyusi repetiu uma promessa que já não é nova: a petrolífera francesa vai voltar a Moçambique quando Cabo Delgado estiver livre dos ataques terroristas
"A Total pode exigir que haja tranquilidade e haja paz para desenvolver os seus projetos económicos", disse Nyusi. A multinacional "tem ajudado em termos de responsabilidade social, com hospitais e escolas. Ajudou na distribuição de água à população [e volta] quando estiver calmo".
de segurança e economia.
Voto de confiança
Do lado da Total, o voto de confiança em Maputo. "Assim que Cabo Delgado volte a ter paz, a Total voltará", garantiu o CEO da petrolífera francesa, Patrick Pouyanné.
Pouyanné classificou a situação enfrentada pela empresa em Palma como "dramática". "Tivemos de tomar decisões", nomeadamente "não manter pessoal em Afungi" (local de construção do projeto), disse o responsável, acrescentando que a empresa tem "plenamente" confiança no Governo moçambicano para apaziguar a região.
A paz em Cabo Delgado continuou em debate em Paris, com o Presidente moçambicano a encontrar-se com o chefe do Governo português. António Costa diz que Portugal está disponível para ajudar a resolver o conflito no norte de Moçambique, em linha com os parceiros europeus
"A União Europeia está neste momento a fazer a geração de forças para uma equipa técnica e de formação em Moçambique, e estamos disponíveis para integrar outras forças e outros apoios que sejam necessários", explicou Costa.
O primeiro-ministro português destacou que o Governo de Portugal tem falado com parceiros europeus, como a França.
"Nós temos apoiado a França em outras ações e recordo que, depois dos ataques terroristas em Paris, Portugal mobilizou uma força que tem estado presente há mais de cinco anos na República Centro Africana. [...] Quando se trata de amigos tão próximos como é o caso de Moçambique, a expetativa que temos é que os nossos parceiros europeus correspondam ao apoio", disse António Costa.
Novo recado
À saída da reunião, Filipe Nyusi deixou um novo "recado" a quem critica o seu Governo pela alegada resistência à ajuda internacional.
"Não se combate o terrorismo sozinho e Moçambique, em nenhum momento, recusou apoio. Aliás, Portugal está em Moçambique com uma equipa de jovens que estão a trabalhar com as forças de defesa, mas também países americanos e países africanos", ressaltou Nyusi.
O chefe de Estado moçambicano destacou que a próxima fase do apoio depende do contacto entre países e do que cada país teria a oferecer. A começar por França, numa altura em que ainda se desconhecem os resultados do encontro de Nyusi e Macron no Palácio do Eliseu, à margem da cimeira desta terça-feira que visava mobilizar pelo menos 82,3 mil milhões de euros para o continente recuperar da pandemia de Covid-19 e também combater o terrorismo.
\"Não vamos abandonar"
O diretor de Operações do Banco Mundial, Axel van Trotsenburg, encontrou-se com o Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, à margem da Cimeira Sobre o Futuro das Economias Africanas.
Trotsenburg disse que a instituição financeira "não vai abandonar" Moçambique. O executivo defendeu que o desenvolvimento sustentável é essencial para sustentar a paz em Cabo Delgado.
"O Banco Mundial quer trabalhar com Moçambique para ver como é que a partir do desenvolvimento sustentável é possível acompanhar o país na busca pela paz. É um processo difícil, mas não vamos abandonar o país", assegurou Trotsenburg em declarações aos jornalistas em Paris.
Axel van Trotsenburg considera que o terrorismo é "um desafio terrível" e um dos problemas mais difíceis de resolver em termos de impacto nas economias, mas o apoio do Banco Mundial é total, assegurou.(x) Fonte: DW