A SADC aprovou o mandato da "força em estado de alerta" da organização para travar o terrorismo em Cabo Delgado. Analista ouvido pela DW espera que Maputo assuma a liderança no processo.
Os chefes de Estado e de Governo da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) aprovaram esta quarta-feira (23.06), em Maputo, o mandato da "força em estado de alerta" da organização, a ser desdobrada em apoio a Moçambique no combate ao terrorismo e a atos de extremismo violento na província nortenha de Cabo Delgado.
O comunicado final do encontro indica ainda que a cimeira exortou aos estados membros da SADC para, em colaboração com agências humanitárias, continuarem a prestar ajuda à população afetada pelos ataques terroristas, incluindo os deslocados.
O Presidente Filipe Nyusi congratulou-se com as decisões da cimeira dizendo que "as iniciativas de apoio da SADC serão um importante complemento aos esforços que o país empreende para enfrentar os atos terroristas, tendo na linha da frente as nossas Forças de Defesa e Segurança, que, de forma abnegada e heroica, estão determinadas a garantir a soberania e a integridade territorial, bem como a proteção das populações".
"Saímos todos desta cimeira mais fortalecidos, e com forte sentido de que, perante os desafios atuais, a união e a inclusão são elementos fundamentais para a prossecução dos nossos objetivos", afirmou Filipe Nyusi no discurso de encerramento da cimeira.
Condições reunidas para o apoio
O chefe de Estado moçambicano concluiu que "estão reunidas as condições para o acolhimento do apoio que os países da região podem conceder a Moçambique no âmbito do combate ao terrorismo".
Sobre a estratégia regional de ajuda a Moçambique, o comunicado final da cimeira não avançou datas e nem detalhes, mas indicou que a comunidade aprovou, para além do mandato da "força em estado de alerta" da organização, as recomendações do relatório do Presidente do órgão de cooperação nas áreas de política de defesa e segurança da SADC.
Notícias anteriores apontavam que a proposta elaborada por uma equipa técnica da SADC previa o envio a Moçambique de uma força de três mil homens, e apoio em equipamento militar.
"Moçambique deve assumir a liderança"
Entretanto, para o analista Calton Cadeado "é preciso ver qual é o engajamento que esse desdobramento vai fazer para intervirem". "O que se espera é que Moçambique assuma sempre a liderança neste processo", defende Cadeado, acrescentando que "a intervenção pode não ser necessariamente militar, com forças da SADC no combate, no enfrentamento, mas pode ser, por exemplo, em termos de apoio de vigilância combativo, aérea, marítimo e por aí adiante".
Falando à DW África, Calton Cadeado, que é igualmente docente em estudos de paz e conflitos, opinou sobre a posição reiterada pelo Presidente Filipe Nyusi, segundo a qual as Forças de Defesa e Segurança de Moçambique devem estar na liderança no combate ao terrorismo em Cabo Delgado.
"Creio que essa é uma decisão acertada. Primeiro, são os nacionais que conhecem o terreno. Segundo, se os estrangeiros intervierem, um dia terão que sair, e se eles saírem com posição de liderança, quem amanhã terá que continuar a luta são os moçambicanos. Terceiro, e último, é que nos outros países onde existe terrorismo a liderança dos processos é feita pelas forças nacionais. Mas, não significa com isso dizer que está fechada a cooperação entre os estados", explicou.(x) Fonte:DW