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sexta-feira, 25 junho 2021 06:40

Cabo Delgado: "Maior intervenção apenas vai aumentar o ciclo de violência"

O sociólogo João Feijó alerta que o reforço de meios militares em Cabo Delgado, norte de Moçambique, deve ser feito de forma inteligente, sob pena de protelar o conflito e agravar as condições de vida da população.

Segundo fontes militares citadas pela imprensa internacional, o distrito de Palma, em Cabo Delgado, Moçambique, voltou a ser palco de um novo ataque junto às instalações do projeto de gás natural na península de Afungi.

Na quarta-feira (23.06), uma cimeira da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) decidiu enviar uma "força em estado de alerta" da organização para ajudar Moçambique no combate ao terrorismo em Cabo Delgado.

No entanto, a chegada de mais meios de combate à região preocupa João Feijó, sociólogo e investigador da organização não-governamental Observatório do Meio Rural (OMR), que adverte que "uma ação militar da SADC não acompanhada por um maior investimento socioeconómico na região pode perpetuar o conflito".

DW África: Qual é a sua primeira análise sobre a decisão tomada pela SADC, no contexto do conflito em Cabo Delgado?

João Feijó (JF): É importante defender os interesses das populações e a sua segurança. De facto, a segurança da população estava em causa e uma maior segurança militar era necessária na região.

DW África: Não há o risco de as populações passarem a ser vítimas de intervenções militares que não sejam bem acauteladas?

JF: Uma maior musculatura no terreno vai ter como impacto uma maior violência sobre as populações. A população está entre duas partes que lutam entre si. Vão sofrer de ambos os lados. Se cooperarem com um lado, vão sofrer pelo outro. Penso que uma maior intervenção de contraterrorismo apenas vai aumentar o ciclo de violência e vai gerar mais deslocados e mais ressentimento nas pessoas.

DW África: Bastaria apenas uma força militar neste conflito?

JF: Uma resposta de contraterrorismo não pode ser uma força bruta. Tem de ser muito mais inteligente. Tem de ser com meios especializados, usando tecnologia que capte comunicações, chamadas e códigos desses grupos, intervindo sobre as respetivas lideranças. Se isso não for acompanhado com um reforço proporcional em termos humanitários – porque vai haver um aumento de deslocados nos próximos tempos em virtude de mais ações de contraterrorismo – e se não for acompanhado de um maior investimento socioeconómico e gerador de empregos, nós corremos o risco de simplesmente estar a alimentar o conflito e não a resolvê-lo.

DW África: Confirma-se que regressaram os ataques em Palma depois de uma relativa calmia?

JF: As informações que estão a chegar – ainda não confirmadas – é que há muitos ataques à volta da vila de Palma. Não está confirmado, mas dizem que conseguiram abater um helicóptero. Portanto, esse grupo continua nas suas incursões. Há aqui um impasse que temos de resolver.

DW África: E continuam a chegar muito deslocados a Pemba? 

JF: Sempre que há um ataque em Palma, quatro ou cinco dias depois temos uma nova vaga de deslocados que chegam por via marítima ao bairro de Paquitequete [Pemba]. Estamos habituados a isto. Assim continuará até que toda a gente tenha saído dos locais onde estão. Depois coloca-se a questão de garantir os direitos das populações com uma resposta humanitária à altura das necessidades.(x) Fonte:DW

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