Cerca de seis mil deslocados que perderam documentos de identificação devido aos ataques terroristas, na província de Cabo Delgado, terão novamente registos de nascimento, no âmbito de uma campanha lançada esta terça-feira pelo Ministério da Justiça, Assuntos Constitucionais e Religiosos.
A cerimónia teve lugar em Metuge, mas a actividade vai decorrer em todos os distritos que acolhem os deslocados.
Lario Daude, de 25 anos de idade, é natural de Quissanga, e abandonou a comunidade há cerca de três meses. Foi um dos primeiros afectados que beneficiou do registo de nascimento e contou como ficou sem documentos de identificação.
“Eu tinha todos documentos, cédula, bilhete de identidade, mas perdi quando estava a fugir [de terroristas] para Metuge”, explicou o jovem e agradeceu pela oportunidade que teve para voltar a ter identificação.
Outra beneficiária da iniciativa foi Muanacha Maulana, também natural de Quissanga Fugiu de lá em Julho último, depois de um ataque armado à sua aldeia. “Os meus documentos perdi quando queimaram a minha casa com todos os bens que haviam dentro”.
A campanha foi lançada pelo secretário de Estado na província de Cabo Delgado e testemunhada pelo governador, o director nacional dos Registos e Notariado e pela representante do Fundo das Nações Unidas para Infância (UNICEF), organização que apoiou a iniciativa.
“Com esta campanha iremos assegurar o direito à identidade ao maior número da população de deslocados. Contudo, estamos cientes que possamos não alcançar os 100 por cento [seis mil deslocados]”, disse Edith Binnema, em representação do UNICEF.
Para evitar a duplicação ou falsificação de documentos, o director nacional dos Registos e Notariado, Jaime Guta, deixou um apelo e aviso aos deslocados: “se falsificarem os nomes, os apelidos, ou qualquer dado poderão ter problemas quando os nossos colegas vierem mais tarde para tratar bilhetes de identidades”.
O governador de Cabo Delgado agradeceu o apoio do UNICEF e explicou às vítimas do terrorismo a importância da recuperação de documentos de identificação.
A campanha permitirá que o Governo promova planeamento e desenvolvimento de políticas para a acompanhamento de intervenções em diferentes áreas, com vista a garantir a mobilização de recursos orçamentais para apoiar toda a população deslocada, segundo o executivo de Cabo Delgado.
De acordo com previsões, segundo o secretário de Estado na província, Armindo Ngunga, a campanha vai terminar em Março de 2021. Foram criadas 11 brigadas e cada uma deve efectuar 60 registos.(x) Fonte: O País