A corrupção tornou-se uma cultura no país, por isso atingiu níveis preocupantes, considera Mia Couto. Para o escritor, o problema compromete a qualidade do ensino no país.
Numa sessão em que partilhou percepções literárias com escritores e leitores, Mia Couto aproveitou a oportunidade para se referir a questões inerentes à educação no país. Para o escritor, a má qualidade de ensino não está dissociada da corrupção generalizada.
“As crianças apreendem na escola onde o professor vende a nota e troca serviços de sexo”, explicou.
No seu entender, quando isso tudo é feito, os alunos assistem e o fenómeno fica em pune.
Ainda no evento, Mia Couto criticou o protagonismo que a imprensa tem dado aos políticos quando, muitas vezes, não têm nada de novo a dizer, por isso “é importante ouvir a opinião dos políticos, mas que não ocupe metade de antena ou metade das páginas dos jornais”.
Para o autor de várias obras literárias, há um ciclo vicioso porque o político sabe que precisa de ser ouvido e os meios de comunicação, por sua vez, estão sempre à disposição e “isso tem que ser cortado”, afirmou.
Segundo o escritor, actualmente, faz falta que os cidadãos tenham informação mais apurada sobre o que se está a passar em diferentes sectores sociais. “Por exemplo, a questão do custo de vida que hoje enfrentamos, faz falta que se perceba que este assunto não é especificamente moçambicano, é um assunto do mundo.”
MIA COUTO APELA À HUMANIZAÇÃO DE RELATOS SOBRE O TERRORISMO EM CABO DELGADO
“O papel é fazer com que essas pessoas possam ser escritoras da sua própria vida e serem testemunhas mesmos que não saibam escrever. É preciso que haja uma possibilidade de elas poderem dizer a quem sabe escrever para que o relato desta desumanização em Cabo Delgado seja registado. Temos, hoje, vítimas que não têm rosto, mas merecem ter nome. Se um empresário de sucesso tem o direito de ter nome, por que os outros não têm esse direito?”, questionou.
“É NECESSÁRIO O ENSINO DAS LÍNGUAS LOCAIS NO PAÍS”
O reconhecido escritor moçambicano considerou que o ensino das línguas nacionais deve ser resolvido a partir da escola, mas de uma maneira que contribua para a unidade do país. Tal deve acontecer, para que não haja conflito entre diferentes culturas, “que depois reivindicam a sua variante, por exemplo, considerar a cultura Macua superior à qualquer outra”, explicou.
O autor considera as línguas locais como um assunto delicado, pois envolve grandes meios financeiros, formação de professores e trabalho das próprias línguas no sentido de fazer a selecção das variantes das línguas que há no país.
A sessão literária com o escritor foi realizada na Fundação Fernando Leite Couto, em Maputo.(x) Fonte: OPais