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segunda-feira, 19 setembro 2022 13:28

Moçambique: Nampula está em condições de lutar "por cada pedaço territorial"

Secretário de Estado de Nampula acredita que as autoridades estão prontas para evitar que os ataques na província evoluam para a escala do conflito em Cabo Delgado. Já arcebispo alerta para riscos da crise humanitária.

"Não tenham dúvidas, estamos em condições de fazer esta luta por cada pedaço territorial da nossa província", declarou Mety Gondola, em entrevista à Lusa.

Em causa estão ataques registados nas últimas semanas no extremo norte da província de Nampula, incursões armadas cuja autoria é atribuída aos rebeldes que têm aterrorizado, desde 2017, Cabo Delgado, província vizinha localizada na margem norte do rio Lúrio.

As incursões destes grupos, que terão atravessado para a margem sul, tiveram como principais alvos os distritos de Eráti e Memba, destruindo infraestruturas e deixado um número até agora desconhecido de óbitos, incluindo uma freira italiana assassinada durante um ataque à missão católica em Chipende.

De acordo com dados preliminares avançados pelo secretário de Estado de Nampula, só no distrito de Eráti, as novas incursões provocaram perto de 10 mil deslocados. Mety Gondola diz que as tropas se desdobram em "ações intensivas" no terreno, na ambição de evitar que o conflito cresça.

"Já há muito tempo que os terroristas procuram formas de desestabilizar a província de Nampula e só não conseguem porque as nossas Forças de Defesa e Segurança têm estado a trabalhar intensivamente", frisou Mety Gondola.

Arcebispo de Nampula teme consequências humanitárias

O arcebispo de Nampula e presidente da conferência episcopal de Moçambique alerta, por seu turno, para os riscos de uma crise humanitária com novas vagas de deslocados, devido a ataques rebeldes no extremo norte daquela província. "É um agravamento da crise que já se vivia por causa da guerra em Cabo Delgado. Agora também temos deslocados da própria província de Nampula", disse Inácio Saure.

As incursões rebeldes em Nampula tiveram como principais alvos os distritos de Eráti e Memba, sobretudo desde agosto, ambos nas margens do rio Lúrio, fronteira natural entre Nampula e Cabo Delgado. A nova vaga de ataques destruiu infraestruturas e deixou um número até agora desconhecido de óbitos, incluindo uma freira italiana assassinada durante um ataque à missão católica em Chipende, no extremo norte da diocese de Nacala.

De acordo com dados preliminares avançados à Lusa pelo Governo de Nampula, só no distrito de Eráti, as novas incursões provocaram a movimentação de cerca de 10 mil pessoas. Ali já havia mais de oito mil deslocados num centro de realojamento em Corrane, Meconta, além outras milhares de pessoas abrigadas em casas de familiares e amigos um pouco por toda província.

"Para nós, é um sentimento de impotência [...] porque de facto já temos muitos deslocados de guerra provenientes de Cabo Delgado", frisou o arcebispo de Nampula.

Para o arcebispo de Nampula, políticas e estratégias para o acompanhamento da juventude são fundamentais para travar o recrutamento, evitando que grupos com intenções obscuras se aproveitem da vulnerabilidade destas camadas mais jovens. "A juventude deve ser cuidada, educada e formada. Por outro lado, é preciso defender esta juventude das fragilidades que fazem com que ela seja facilmente recrutada", frisou Inácio Saure.

800 mil deslocados internos

A província de Cabo Delgado é rica em gás natural, mas aterrorizada desde 2017 por violência armada, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.

A insurgência levou a uma resposta militar desde há um ano por forças do Ruanda e da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), libertando distritos junto aos projetos de gás, mas levando a uma nova onda de ataques noutras áreas.

As autoridades têm classificado as incursões mais recentes como reações dispersas dos insurgentes de Cabo Delgado, em fuga, ao tentar sobreviver à ofensiva das tropas que os perseguem.

Há cerca de 800 mil deslocados internos devido ao conflito, de acordo com a Organização Internacional das Migrações (OIM), e cerca de 4.000 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED.(x) Fonte: DW

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