A província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, continua a viver um dos momentos mais difíceis da sua história recente, com ataques insurgentes forçando milhares de pessoas a abandonar suas casas e a viver em situação de extrema vulnerabilidade. No entanto, em meio ao caos, as autoridades locais e os parceiros internacionais têm trabalhado de forma coordenada para garantir a segurança, o retorno da população e a recuperação da economia e das infraestruturas destruídas.
O distrito de Muidumbe, um dos mais afetados pelos ataques desde 2017, tem dado sinais de recuperação, com 90% da população já de volta às suas aldeias. Em entrevista exclusiva à Zumbo FM Notícias, nesta quarta-feira, 06 de Novembro de 2024, uma fonte bem posicionada no Governo, revelou que a comunidade tem recebido apoio para reconstruir a vida, com a distribuição de alimentos, insumos agrícolas e o início da reabertura de escolas e centros de saúde.
"90% da população já voltou, posso assegurar isso. Estamos a trabalhar no sentido de apoiar as comunidades com produtos alimentares e insumos agrícolas para apoiar a população que já regressou e garantir o retorno normal das suas atividades, em coordenação com os nossos parceiros, como a PEMA, USAID e todas as agências que colaboram connosco", afirmou a fonte, destacando que a prioridade, no momento, é garantir que as famílias retomem suas atividades agrícolas e que a alimentação básica chegue a todos.
A colaboração com as agências humanitárias tem sido fundamental para garantir a segurança alimentar, mas também para apoiar a recuperação da economia local. As áreas de produção agrícola, que foram severamente afetadas pela violência, começam a retomar a produção, embora ainda com desafios significativos.
O esforço para garantir o retorno à normalidade vai além do apoio alimentar e agrícola. O governo tem se concentrado na reabertura de escolas e centros de saúde, serviços essenciais para a recuperação da região.
"O que o governo está a fazer neste momento é reabrir as escolas e centros de saúde. Quase todas as escolas já foram abertas. As outras aldeias que voltaram mais tarde, e onde o número de alunos não era suficiente, preferiram adiar o início do ano letivo para o próximo ano. Mas a maior parte das escolas já estão a funcionar, com exceção de uma ou outra aldeia. Quanto aos centros de saúde, já abrimos em Mambula, temos o Centro de Saúde de Miteda, e faltam apenas abrir os centros de saúde de Mingelewa e Chitunda", explicou a fonte.
O retorno das crianças às escolas e o acesso à saúde são passos cruciais para restabelecer a confiança da população e permitir que as famílias comecem a reconstruir sua vida. A recuperação das infraestruturas sociais tem sido acompanhada de perto pelo governo e por organismos internacionais, que têm contribuído com recursos financeiros e logísticos para acelerar o processo.
Entretanto, a recuperação de Muidumbe enfrenta desafios significativos.
"As infraestruturas foram vandalizadas, e por isso estamos à procura de parceiros para reabilitá-las e poder reabrir. Não é por causa da segurança, pois estamos seguros", explicou a fonte, ressaltando que, apesar de a situação de segurança ter melhorado substancialmente, as infraestruturas destruídas representam um grande obstáculo à plena recuperação.
A zona de Nguri, que é uma área de intensa produção agrícola, foi particularmente afetada, com máquinas, tratores e outros equipamentos essenciais destruídos ou roubados pelos insurgentes.
"A economia foi destruída, mas estamos em recuperação. Há muita coisa que foi destruída, especialmente na zona de Nguri, que é uma área de produção agrícola. Máquinas foram vandalizadas, tratores foram destruídos, mas neste momento estamos em recuperação", afirmou a fonte.
Além disso, os mercados, lojas e outras infraestruturas econômicas também sofreram danos consideráveis, mas o governo já iniciou ações para restaurar essas áreas vitais para o comércio e a geração de renda da população.
A recuperação das infraestruturas sociais – água, saúde, educação – continua a ser a prioridade nas áreas mais afetadas.
"Os aspectos mais críticos são água, saúde e educação. Em outras palavras, estamos na fase de recuperação das infraestruturas sociais, o que inclui também as vias de acesso, entre outras", disse a fonte. O restabelecimento do fornecimento de água e a melhoria das vias de acesso são fundamentais para garantir que a população tenha as condições mínimas para reconstruir suas vidas.
Embora os esforços do governo e de parceiros internacionais tenham garantido avanços significativos, os desafios permanecem. A insegurança em algumas áreas ainda é uma preocupação, e a recuperação econômica será um processo demorado. No entanto, a retomada das atividades básicas – como a agricultura, a educação e o acesso à saúde – é um sinal de que Muidumbe e outros distritos afetados podem, lentamente, começar a reconstruir suas comunidades.
A população, que sofreu tanto com a violência dos insurgentes, agora enfrenta o desafio de reconstruir não apenas as infraestruturas, mas também a sua própria confiança no futuro. Com o apoio contínuo do governo e de seus parceiros, a esperança de recuperação em Cabo Delgado segue em frente, mesmo que de forma gradual. (x)
Por: António Bote
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