A mina de grafite de Balama, em Cabo Delgado, conhecida como a maior produtora de grafite natural de alta pureza do mundo, está no centro de uma crise social. Apesar de sua importância econômica global, com capacidade de produção superior a 350.000 toneladas anuais, o impacto local é alarmante.
Mais de 200 famílias, que cederam suas terras para o projecto entre 2014 e 2016, denunciam o não pagamento das indemnizações prometidas pela empresa exploradora. O impasse, que já dura dois meses, atingiu um ponto crítico com a greve das famílias.
O Administrador do Distrito de Balama, Edson Lino, confirmou o protesto em entrevista à Zumbo FM Notícias, nesta segunda-feira, 02 de Dezembro de 2024, destacando a exaustão e frustração das comunidades afectadas.
“Há uma greve daqueles camponeses que cederam às suas terras para se alojar lá a mina de grafite. Já está por aí um mês e meio, a caminho de 2 meses,” declarou, destacando a gravidade da situação.
Inicialmente, o movimento grevista envolvia 39 famílias, mas agora abrange mais de 200, segundo o Administrador. “Estamos com perto de duas centenas ou um pouco mais de famílias,” revelou Lino.
Para os camponeses, o reassentamento realizado no passado não garantiu condições mínimas para reconstrução da vida, e o atraso nas compensações aprofunda a crise. O impacto direto é visível: famílias sem acesso às suas terras enfrentam insegurança alimentar e dificuldades econômicas crescentes.
A mina de Balama é explorada pela Syrah Resources, uma multinacional que utiliza o grafite produzido para fabricar baterias de lítio, essenciais para o mercado de veículos elétricos e tecnologia de armazenamento de energia. Cabo Delgado, com suas reservas significativas, é um dos principais exportadores de grafite natural da África, e Balama destaca-se como uma das maiores minas do continente.
Apesar dessa posição estratégica, a relação entre a empresa e a comunidade local tem sido marcada por desentendimentos, sobretudo em relação às promessas de compensação.
Diante do impasse, o Governo do Distrito de Balama busca soluções. “A nossa missão como Governo é fazer a ponte, para haver o entendimento entre os camponeses, neste caso os nossos produtores, e a empresa. Porque no âmbito de reassentamento, algumas indenizações têm que ser a empresa a suportar,” afirmou Edson Lino.
Lino reconheceu que o problema é antigo, remontando ao período inicial de implementação do projeto. “Este processo ocorreu no período entre 2014 e 2016, então, não é um processo recente, é um processo do passado. Estamos a gerir estes conflitos, mas penso que vamos ter um bom desfecho.”
Apesar da tensão crescente, o Administrador de Balama apela ao diálogo entre as partes. “A palavra que nós deixamos ficar é de que as duas partes, neste caso a empresa e os nossos produtores, voltem a assinar um cachimbo da paz. Nós, como Governo, estamos sempre disponíveis para mediar este conflito. Já tivemos alguns encontros, e creio que os próximos dias serão mais felizes.”
Com a mina de Balama sendo um símbolo de desenvolvimento para o continente, a resolução deste conflito é essencial não apenas para a comunidade local, mas também para a reputação do setor extrativo em Cabo Delgado. Enquanto isso, as famílias de Balama continuam à espera de justiça. (x)
Por: António Bote
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