A guerra em Cabo Delgado, que dura já mais de sete anos, continua a espalhar uma sombra de incerteza e sofrimento entre os deslocados que, cada vez mais, veem suas esperanças de retorno às suas terras se desfazerem. Em meio aos ataques terroristas que devastaram diversas localidades, a falta de perspectivas sobre o fim do conflito tem gerado um clima de angústia e desespero. No centro de reassentamento de Naminawe conhecida por Na Nyusi, no posto administrativo de Mieze, distrito de Metuge, centenas de famílias, que fugiram dos horrores da violência, enfrentam o pesado fardo da dúvida: será que algum dia poderão voltar para suas casas?
Nesta quinta-feira, 21 de Novembro de 2024, em uma entrevista exclusiva à Zumbo FM Notícias, deslocados provinientes de diversos distritos da província falaram sobre os efeitos devastadores da guerra, não apenas sobre suas vidas diárias, mas principalmente sobre a incerteza de um futuro livre do terror. As palavras dessas vítimas, que já enfrentam o exílio forçado há anos, refletem uma preocupação constante: o fim da guerra, e com ela, a possibilidade de reconstrução de suas vidas.
Ngamo Assane, natural de Muieda, que está em Metuge há mais de três anos, compartilhou seu profundo receio sobre o fim da guerra.
“Estamos a pedir para o governo entender e pôr fim à guerra, porque eu perdi muita coisa. Meus filhos estavam estudando na terceira classe e, quando a guerra começou, não consegui mandá-los continuar os estudos. Não tenho vontade de voltar para o meu distrito depois de tudo o que vivenciei lá. Já estamos há mais de sete anos e não sei se a guerra vai acabar algum dia,” afirmou, visivelmente abalado.
A dúvida sobre a duração do conflito também foi expressa por um deslocado que preferiu permanecer anônimo. Ele destacou a frustração e a confusão vivida pela população: “Nos choramos para que a guerra acabe, para que haja paz na nossa província e no nosso país, mas não sabemos mais o que pensar. A guerra, dizem, está diminuindo, mas sempre que alguém tenta voltar para a sua terra, logo ouvimos que houve novos ataques. Não sabemos de onde vem essa guerra, e já estamos há tanto tempo sofrendo.”
Outro deslocado proviniente do distrito de Muidumbe que falou em anonimato, também compartilhou suas inquietações sobre o futuro.
“Nós queremos que a guerra acabe, para que cada um possa voltar para sua casa, mas aqui estamos mal. Não há condições. Em Muidumbe, a guerra continua até hoje, e a situação em Macomia é ainda pior. Não sei se essa guerra vai acabar algum dia ou se vamos viver aqui para sempre.”
Residente em Naminawe desde 2020, Boco Tome, expressou uma angústia que se tornou comum entre os deslocados.
“Aqui choramos todos os dias para que a guerra acabe, esse é o nosso grito. Estamos sem saber o que fazer. A situação está cada vez pior, e o medo de que a guerra nunca acabe toma conta de todos nós.”
Moca Mendoca, natural de Macomia e deslocada há três anos, trouxe à tona a frustração de um sofrimento sem fim.
“Estamos pedindo para que a guerra termine, para que possamos voltar para nossas casas. Não podemos viver assim para sempre, sem saber quando ou se a guerra vai acabar. Se o governo consegue dar-nos condições para viver aqui, porque não pode acabar com a guerra e deixar-nos retornar às nossas terras?”
As declarações dessas pessoas que vivem há anos em centros de reassentamento não refletem apenas uma luta pela sobrevivência, mas uma constante incerteza quanto ao futuro. A guerra, que destruiu tantas vidas e forçou tantas famílias a se exilarem, permanece sem fim à vista. A dúvida sobre o que virá a seguir é um fardo pesado para aqueles que ainda esperam, em vão, pelo retorno à normalidade.
A falta de clareza sobre o desfecho do terrorismo em Cabo Delgado alimenta o desespero e o sentimento de abandono. Para esses deslocados, o retorno às suas casas é um sonho distante, enquanto o temor de um futuro incerto continua a marcar suas existências, dia após dia. A resposta do governo e das autoridades internacionais continua sendo uma questão crucial para resolver esse impasse, pois enquanto a guerra persistir, a dúvida sobre o fim do sofrimento será o principal inimigo dessas famílias. (x)
Por: António Bote
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