Moçambique vive um dos momentos mais tensos e instáveis da sua história recente. Desde as sétimas eleições gerais, realizadas em 09 de Outubro de 2024, o país tem sido palco de uma crescente onda de manifestações em diversas cidades, com particular destaque para Pemba, em Cabo Delgado. Essas manifestações, inicialmente pacíficas, foram ganhando proporções alarmantes, afetando diretamente a vida econômica e social do país. Em 04 de Dezembro de 2024, iniciou-se a quarta fase dos protestos, convocados por Venâncio Mondlane, que tomaram as ruas de Pemba, marcando uma escalada de violência e desordem que surpreendeu tanto a população quanto as autoridades locais.
Em entrevista exclusiva à Zumbo FM Notícias, realizada em Pemba nesta quinta-feira, 05 de Dezembro de 2024, o Presidente do Conselho Empresarial e Representante da Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA) em Cabo Delgado, Mahamudo Irachi, falou sobre o impacto devastador das manifestações nas atividades econômicas da cidade. Irachi revelou que, embora o início da manhã tenha sido relativamente tranquilo, a situação mudou drasticamente a partir das 10h.
“No princípio, das 06 até 10h, a situação estava calma em Pemba, mas 10h o cenário mudou no sentido muito negativo, porque não é característica desde que iniciaram as manifestações na cidade de Pemba, mas desta vez nos surpreendeu bastante”, explicou.
Mahamudo Irachi, a cidade que já estava a recuperar de diversas crises regionais, viu-se novamente paralisada por barricadas e destruição generalizada. As vias principais da cidade, como a Baixa da Cidade, Emulação Socialista, Alto Gingone e Avenida Alberto Chipande, foram palco de intensos confrontos.
“Houve muitas barricadas ao longo das estradas, isso iniciando na baixa da cidade, na Emulação Socialista, seguindo até alto Gingone e de Avenida Alberto Chipande. Estamos a falar do Gingone até a rua Marginal (Praia do Wimbe), o ambiente aí não foi das melhores", afirmou Irachi, descrevendo um cenário de caos que abalou a cidade e deixou a população em pânico.
As consequências dessas manifestações foram sentidas principalmente no comércio local. O Mercado Mbanguia, uma das principais referências de vendas na cidade, foi severamente afetado, com a destruição das bancas de vendedores informais.
“Para zona de Natite, Emulação Socialista, para saída da Estrada que vai até na sede da RENAMO, houve destruição das bancas. Infelizmente, os produtos não estavam nas bancas, mas aquelas bancas que estavam aí ao redor do mercado Mbanguia foram destruídas também, serviram de lenha dos manifestantes”, relatou Irachi. O impacto econômico foi profundo, com o comércio informal e local a sofrer perdas significativas.
Segundo Irachi, a sensação de insegurança foi tão grande que muitos comerciantes preferiram fechar suas lojas.
“Algumas lojas fecharam, outras abriram, em particular na zona de IMAP (Alto Gingone) até na praia do Wimbe. Muitas lojas fecharam naquelas zonas porque temiam mesmo invasão das pessoas, por isso, decidiram deixar às suas lojas e reterem aí por perto a ver o ambiente”, acrescentou. A cidade de Pemba, já fragilizada por vários desafios econômicos, viu-se agora com o seu comércio local em colapso devido à violência das manifestações.
O impacto nos transportes também foi devastador. Irachi descreveu como, durante toda a tarde, a cidade ficou praticamente paralisada, com o transporte público a ser severamente afetado.
“Estamos a ver a situação dos transportes, das 10 até no final da tarde, todas viaturas ficaram paradas, é um prejuízo enorme para os transportadores”, disse. Muitos veículos não conseguiam entrar na cidade, forçando os passageiros a descerem em locais afastados, o que gerou ainda mais transtornos. “Alguns carros só chegavam em Muchara, tinham que baldear as pessoas lá, por temerem a entrada na cidade. São prejuízos”, lamentou Irachi.
A Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA) em Cabo Delgado, está a monitorar atentamente os danos causados pelas manifestações, mas ainda não conseguiu fazer uma avaliação precisa das perdas econômicas.
“Neste momento, nós ainda não começamos a fazer avaliação de quantos meticais está se perder, porque estamos a iniciar neste âmbito de 4X4, então, ainda não estamos em condições de dizer que o gasto foi tanto, ou a perda foi tanto. Mas, ainda continuamos a monitorar a situação, para ver qual será o fim disto”, explicou Irachi, destacando a necessidade urgente de uma solução para evitar que os danos continuem a aumentar.
A CTA, juntamente com outras instituições do setor privado, apelam ao diálogo entre as partes envolvidas nas manifestações, temendo que os protestos se espalhem ainda mais, comprometendo a recuperação econômica e social da região e do país.
“O que nós estamos a apelar, é que as partes conversem para terminar com isso. Se hoje estamos a ver nos distritos onde as pessoas pensavam que não poderiam fazer as manifestações, mas já está a se fazer. Imagine lá amanhã, o que vai acontecer?”, alertou Irachi, deixando claro que a situação é ainda imprevisível e pode se agravar nos próximos dias.
O futuro de Cabo Delgado e de Moçambique como um todo está em jogo, com a esperança de que a situação seja resolvida antes que os danos se tornem irreversíveis para a economia nacional. (x)
Por: António Bote
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