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quarta-feira, 01 janeiro 2025 12:06

Cabo Delgado: Mulheres violadas sexualmente e submetidas a abusos psicológicos por líderes terroristas em Mocímboa da Praia

Imagem ilustractiva. Imagem ilustractiva.

“Eu já não sei mais quem sou. As noites são longas e as memórias, dolorosas. Cada passo que dou me lembra do que vivi. As cicatrizes na minha alma são mais profundas do que as que restaram no meu corpo.”- disse uma vítima de rapto de terroristas em Mocímboa da Praia.

Este é apenas um dos relatos que chegam da vila de Mocímboa da Praia, no norte da província de Cabo Delgado, em Moçambique, onde mulheres sobreviventes da insurgência enfrentam uma realidade cruel e desesperadora. Vítimas de rapto, violência sexual e tortura psicológica nas mãos dos grupos terroristas, essas mulheres ainda tentam reconstruir suas vidas, mas a luta contra os traumas do passado parece interminável.

Em 24 de Março de 2020, Mocímboa da Praia foi palco de um ataque devastador, no qual muitas mulheres foram capturadas pelos insurgentes. Levaram-nas para locais isolados, onde foram tratadas como escravas, forçadas a viver sob uma constante ameaça de morte. Muitas dessas mulheres, após meses e até anos de cativeiro, conseguiram escapar, mas a dor e o sofrimento ainda as perseguem.

“Fui capturada no bairro de Milamba. Fui levada para uma base onde fui violada diversas vezes. Não foi só o abuso físico, mas o psicológico, que me marcou. Eu era forçada a ter relações sexuais com vários homens por dia, e quando tentava resistir, as ameaças de morte eram constantes”, relata uma das sobreviventes.

Essas mulheres, que viveram o pesadelo nas mãos dos insurgentes, agora enfrentam outro desafio, a falta de apoio psicológico. Mesmo com a presença de algumas ONGs e psicólogos, a ajuda não tem sido suficiente para atender a todas as vítimas. Muitas se sentem esquecidas, excluídas, e desesperadas por um amparo que vá além das palavras.

“Eu não estou bem. Às vezes, acordo no meio da noite, gritando, revivendo tudo o que aconteceu. Minha mãe, que ficou comigo, também tem medo de mim. A dor que sinto não é só física, é uma dor que consome a minha alma”, desabafa outra sobrevivente.

Em uma crítica dolorosa à ineficiência de muitas ações humanitárias, as vítimas apontam que, enquanto as ONGs circulam em carros de luxo, elas continuam a sofrer, sem o apoio que verdadeiramente precisam.

“O que queremos não são carros bonitos, nem palavras vazias. Queremos ajuda real, psicológica, algo que nos ajude a recuperar a dignidade e a reconstruir nossas vidas”, afirmou uma mulher que, com os olhos marejados, ainda carrega as marcas da violência física e emocional.

As críticas não param por aí. As mulheres clamam por um apoio que, além do cuidado psicológico, ofereça também o saber fazer, capacitação e recursos que as ajudem a ser autos-suficientes e a sair da pobreza e do estigma que as acompanha.

A emissora pública de televisão do país, que revelou os relatos em condição de anonimato, acompanhou de perto as histórias de dor e superação das mulheres que conseguiram sobreviver ao cativeiro imposto pelos insurgentes.

Em entrevista exclusiva à Zumbo FM Notícias, nesta segunda-feira, 30 de Dezembro de 2024, o administrador de Mocímboa da Praia, Sérgio Cipriano, que tem se dedicado ao apoio das vítimas, reconhece as dificuldades enfrentadas na região e os desafios de fornecer o suporte necessário a todas as pessoas afetadas pela insurgência.

“No setor de Saúde, temos psicólogos que trabalham com a população, e algumas ONGs tentam intervir. Porém, ainda não conseguimos alcançar todas as vítimas que estamos identificando. O impacto da insurgência tem sido devastador, mas estamos trabalhando para melhorar a situação”, afirmou Cipriano.

Contudo, ele também reconhece que a insurgência está mudando de foco. “As últimas incursões, em sua maioria, não foram tão sangrentas. A logística tem sido o foco principal, o que mostra que a situação está evoluindo, mas as necessidades psicológicas das vítimas continuam urgentes.”

Enquanto isso, as mulheres continuam a lutar não só contra os fantasmas do passado, mas contra a indiferença de um sistema que, muitas vezes, falha em abraçar as suas necessidades. O que elas querem é ser ouvidas, é ter a oportunidade de viver de novo, longe das sombras que a insurgência deixou em suas vidas. O pedido é simples, mas crucial: ajuda psicológica, dignidade, e o direito de recomeçar. (x)

Por: Bonifácio Chumuni

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