No dia 16 de Janeiro de 2025, a Zumbo FM Notícias realizou uma entrevista exclusiva com cidadãos da cidade de Pemba para compreender suas expectativas em relação ao novo Presidente da República de Moçambique, Daniel Chapo. Os entrevistados expressaram grande esperança em seu discurso, acreditando que ele pode ser a solução para acabar com o terrorismo na província de Cabo Delgado, um dos maiores desafios do país nos últimos anos.
No entanto, ao entrevistar acadêmicos residentes em Pemba nesta quinta-feira, 23 de janeiro, surgiram diferentes análises e opiniões sobre a capacidade do Presidente em enfrentar o problema de forma definitiva.
Aly Caetano olhou cautelosamente sobre as expectativas dos munícipes e disse ser muito prematuro ter uma resposta adequada para esta situação.
"É realmente prematuro dizer que Daniel Chapo vai acabar com o terrorismo. Precisamos ver quais serão as ações levadas a cabo nos próximos meses, e eu sou cético em comemorar vitórias agora", afirmou Aly Caetano. O acadêmico reconhece que houve progressos, como a melhoria nas condições de segurança que permitiram o regresso de populações às suas zonas de origem, mas prefere abordar o momento com prudência. Para ele, é necessário um período mais longo de observação para avaliar se as estratégias adotadas serão eficazes a médio e longo prazo.
Aly também destacou que, embora o otimismo seja importante, comemorar vitórias antecipadas pode ser prejudicial, pois a realidade em Cabo Delgado ainda é instável, com focos de ataques esporádicos. Ele defende que qualquer declaração sobre o fim do terrorismo deve ser respaldada por resultados concretos e sustentáveis no terreno.
A importância da inclusão no diálogo político, além disso, Caetano ressaltou que Daniel Chapo e Venâncio Mondlane, enquanto figuras centrais do governo, têm o desafio de liderar um processo inclusivo. "Agora, Venâncio Mondlane e Daniel Chapo têm que fazer a diferença. É necessário, certamente, envolver outros atores nesse processo de diálogo para garantir uma união transparente", explicou. Ele destacou que o envolvimento de diferentes setores da sociedade e atores políticos é crucial para garantir uma paz sustentável.
Para o acadêmico, é insuficiente que apenas as principais lideranças participem do processo. Ele enfatizou a necessidade de uma "cabine inclusiva", com espaço para organizações da sociedade civil, representantes locais e outros grupos afetados diretamente pelo conflito. Segundo ele, somente um esforço coletivo poderá assegurar a transparência e legitimidade nas negociações para restaurar a estabilidade em Cabo Delgado.
Frederico João, outro acadêmico residente em Pemba, apresentou uma visão otimista em relação à contribuição da comunidade internacional no combate ao terrorismo em Cabo Delgado. "Tem sido positivo, na medida em que, por exemplo, a presença das forças da SADC ajudou bastante, embora agora já tenham se retirado", afirmou.
Ele explicou que, no auge do conflito, os terroristas estavam a ocupar metade da província, o que levou muitas pessoas a abandonar suas casas. Com a entrada das forças da SADC e, posteriormente, das tropas ruandesas, foi possível recuperar territórios e estabilizar a situação em grande parte da região.
Frederico também destacou o papel da União Europeia, que oferece formação militar às forças moçambicanas, e de organizações não governamentais (ONGs), que têm desempenhado um papel crucial na assistência humanitária às populações deslocadas. Segundo ele, essa cooperação tem sido fundamental para reduzir os impactos do terrorismo, embora o problema esteja longe de ser resolvido.
A descoberta de vastas reservas de hidrocarbonetos e gás natural transformou a província em um alvo estratégico, mas também em palco de tensões e incertezas. Essa riqueza, que deveria ser um motor de desenvolvimento, desperta ambições e, por vezes, conflitos. Frederico João analisou os fatores econômicos que influenciam o cenário da província.
"Repare que Cabo Delgado, pela sua riqueza em recursos naturais, especialmente hidrocarbonetos e gás, levanta dúvidas sobre quais são os players interessados e quem ficou fora desse cenário. Alguém que não gostou pode querer desestabilizar a província e o país para retardar a exploração."
Zito Pedro, outro acadêmico baseado em Pemba, elogiou a abordagem inicial de Daniel Chapo, que, em seu discurso, evitou promessas precipitadas sobre o terrorismo. "Tenho a sensação de que, no próprio discurso, o presidente não se focou tanto no terrorismo. Ele deu atenção a outros aspectos estruturantes do governo. Isso me faz acreditar que ele entende a complexidade desse fenômeno", afirmou.
Para Zito, o presidente demonstrou prudência ao reconhecer que o combate ao terrorismo exige um entendimento profundo do contexto local e internacional. Ele defendeu que, antes de implementar estratégias específicas, é necessário estabilizar outros setores estruturais do país, como economia, educação e saúde, que também estão interligados ao problema.
Zito destacou a importância de iniciativas econômicas para reduzir a vulnerabilidade das comunidades em Cabo Delgado. "Uma das ideias que Chapo avançou foi a criação do Banco de Moçambique, que vai se focar no fortalecimento das iniciativas locais. Se essa ideia se concretizar, penso que muitas pessoas poderão criar negócios próprios, o que reduzirá o risco de filiação à insurgência", explicou.
Segundo ele, o fortalecimento das economias locais pode ser um fator-chave para afastar jovens e comunidades da influência de grupos insurgentes. Ele concluiu dizendo que o sucesso de Daniel Chapo dependerá de sua capacidade de implementar essas iniciativas de forma eficaz e sustentável. (x)
Por: Nazma Mahando
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