A crise de segurança em Cabo Delgado, especialmente no Posto Administrativo de Mazeze, no distrito de Chiúre, atingiu um ponto crítico nos últimos meses. Desde 2017, a província tem sido assolada por ataques insurgentes, e a região de Mazeze tornou-se um dos epicentros desse conflito armado. A violência dos grupos terroristas tem deixado um rastro de destruição, com centenas de mortos, milhares de deslocados e bens materiais destruídos.
Contudo, o agravamento da insegurança tem sido amplificado pela incapacidade das autoridades locais de dar uma resposta eficaz. O desespero da população de Mazeze tem sido crescente, com a administração local sendo cada vez mais rejeitada. As promessas de reforço de segurança feitas pelas autoridades se mostraram ineficazes, e a presença das forças de defesa, longe de trazer alívio, tem sido vista por muitos como uma agravante da situação.
No início do mês de janeiro de 2025, a Zumbo FM Notícias trouxe à tona uma reportagem que dava conta de que, no dia 02 de Dezembro de 2024, um batalhão militar enviado para a região foi expulso pela população local. A razão foi que chegaram tarde, após os insurgentes já terem causado danos significativos à comunidade. Esse incidente acentuou ainda mais a rejeição ao governo local, com o clima de insatisfação tomando proporções mais dramáticas nos dias seguintes.
Em exclusivo à Zumbo FM Notícias, esta quarta-feira, 05 de Fevereiro de 2025, moradores de Mazeze desabafaram sobre a ausência total e falta de apoio das autoridades.
"Na verdade, aqui não há nada de Governo em Mazeze. A partir dos problemas de Alsheebabe até este ciclone CHIDO, o Governo do distrito não veio visitar a população de Mazeze, não fez nada, nada mesmo. Nem escolas, comando, nem nada não existe, então quando o povo fala que não quer saber nada do Governo," disse.
Outro morador lamentou a ausência de qualquer autoridade desde o último ataque em novembro de 2024 até a passagem do ciclone tropical CHIDO, em 15 de dezembro do mesmo ano.
"Aqui em Mazeze, não há governo, e a população está lamentando bastante. Podemos dizer que é uma terra sem leis, porque onde não há governo, cada um faz o que bem entender," relatou.
A situação tem gerado grande apreensão entre os professores alocados na região. Um educador, visivelmente preocupado, compartilhou sua angústia:
"O que nos deixa muito preocupados é mesmo a questão de situação aqui. Queremos muito que pelo menos o ambiente mude, porque não é fácil viver dessa maneira, sem condições, sem diálogo. Atendemos essa população, e quando a população começa a reagir assim, nós ficamos destruídos," contou.
Ele também destacou o risco que a falta de dialogo entre o governo local e a população e infraestrutura representa para a educação.
"Se a situação continuar assim, significa que os alunos em Mazeze correm o risco de não estudar mais este ano. Deve existir mais reforço para tentar melhorar o ambiente que se vive aqui," alertou.
Em relação às condições de ensino, o professor disse que o Governo prometeu em distribuir as tendas para classe docente usar como residência, mas ainda não receberam.
"Aqui para a classe docente, prometeram nos trazer umas tendas para podermos nos assegurar, porque todos os edifícios estão danificados," informou.
O educador concluiu, enfatizando a ausência de diálogo entre a população e o governo, que tem sido um dos principais obstáculos para a solução da crise.
"O que está nos impedindo agora é a falta de diálogo entre a população e o governo. A população aqui em Mazeze está frustrada, estão contra o governo," observou.
Em resposta à crescente tensão e insatisfação popular, a chefe do posto administrativo de Mazeze, Daniela Tunia, falou à Zumbo FM Notícias sobre a difícil realidade enfrentada. Ela revelou uma tentativa de apaziguamento por parte das autoridades, embora tenha relatado a rejeição explícita por parte da população.
"Nós queremos ficar a sós, não vos queremos aqui," disse Tunia, citando as palavras dos próprios residentes.
"Você não pode chegar mais aqui. Quando você chegar, verás o que vais ser feito," completou, relatando as ameaças que receberam das comunidades locais.
Apesar disso, Daniela Tunia mencionou que, em resposta ao crescente descontentamento, o Secretário de Estado enviou uma equipa composta por responsáveis de Recursos Humanos e um assessor para ouvir a população e entender as razões que levaram ao ponto de expulsar os militares.
"O Secretário de Estado mandou uma equipa composta por responsáveis do Recurso Humano e um assessor dele para vir ouvir a população e o que precisa na verdade, e por que chegaram ao ponto de expulsar os militares," afirmou Tunia, destacando a tentativa das autoridades em restaurar a ordem.
No entanto, a rejeição e o mal-estar com as autoridades locais permanecem palpáveis, e a crise continua sem uma solução à vista. (x)
Por: António Bote
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