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domingo, 09 março 2025 18:38

Cabo Delgado: A falta de segurança e transparência nas ONGs amplificam violação dos direitos das crianças e mulheres deslocadas - denuncia Kwendeleya

Imagem ilustractiva. Imagem ilustractiva.

O fundador da Organização Não Governamental Kwendeleya, Abudo Gafuro, fez uma grave denúncia sobre as violações dos direitos humanos em Cabo Delgado, alertando para os efeitos devastadores da falta de segurança e transparência nas ações das ONGs. Em entrevista exclusiva à Zumbo FM Notícias, Gafuro revelou como as populações deslocadas, especialmente crianças e mulheres, estão sendo amplamente prejudicadas pela falta de assistência adequada e pela exploração sistemática em campos de deslocados.

"As violações mais comuns dos direitos humanos contra pessoas deslocadas, crianças e mulheres em Cabo Delgado incluem: 1.º Negação de acesso a condições básicas de vida, como alimentação, água potável e abrigo. 2.º Deslocação forçada das suas comunidades sem aviso prévio ou garantia de segurança. 3.º Violência física, sexual e psicológica, incluindo agressão sexual, violência de género e tortura. 4.º Restrições ao acesso a serviços de saúde e educação adequados. 5.º Exploração económica, incluindo trabalho forçado e tráfico de seres humanos. 6.º Discriminação com base na religião, raça, género ou outras características pessoais", afirmou Gafuro, destacando os principais abusos sofridos por estas populações vulneráveis.

O ativista sublinhou que essas violências não acontecem apenas por falta de recursos, mas também devido à gestão ineficaz e à falta de comprometimento de algumas organizações humanitárias. Ele alertou que a falta de credibilidade no processo de registo das vítimas está dificultando o acesso à ajuda.

"Às instituições internacionais pecam na seleção de pessoal para o processo de trabalho de registo das vítimas. É um processo que tem lacunas de credibilidade em termos de seleção dos beneficiários, refiro-me a vítimas da insurgência. É preciso que haja uma estratégia de comunicação com as vítimas porque o verdadeiro beneficiário tem sido muito castigado para se comunicar com os tais homens de registo", denunciou.

Além disso, Gafuro também criticou a exploração das vítimas, especialmente em situações onde a ajuda humanitária se transforma em moeda de troca para favores sexuais.

"O que se verifica é violação de regras de conduta e princípios de boa fé. Só por causa de um saco de arroz há muita coisa que acontece para poder beneficiar as vítimas. Chega a cobrar sexo ou troca de favores sexuais para poder constar na lista dos beneficiários de apoio", revelou o ativista, destacando como a vulnerabilidade das mulheres e crianças está sendo manipulada de maneira cruel.

"Há exemplos concretos de raparigas e adolescentes que engravidaram sem sequer pensar nas consequências negativas que o futuro irá lhes causar. Há famílias que estão a viver com traumas e medo de denunciar os atores por causa de ameaças que são feitas. E o silêncio lhes consome", afirmou Gafuro, destacando a devastação emocional que essas práticas abusivas causam às vítimas. Ele mencionou que, além da exploração sexual, muitas dessas jovens vítimas ficam marcadas para toda a vida, muitas vezes sem esperança de um futuro melhor.

O ativista também fez duras críticas à ostentação de alguns agentes humanitários, que vivem em condições luxuosas enquanto a população deslocada sofre.

"Eu acho que é uma oportunidade para os atores que estão envolvidos. Antes, víamos muitos deles não tinham o luxo de vida que hoje têm. Andam com carros de topo de gama e alta cilindrada, comprados com o dinheiro desviado de ajuda humanitária ou assistência humanitária. Será que recebem tanto salário que justifique, em menos de um ano, ter uma viatura?", questionou Gafuro, levantando sérias dúvidas sobre a ética e a honestidade de alguns envolvidos no processo humanitário.

Abudo Gafuro fez um apelo para que as ONGs e as instituições envolvidas nas ações humanitárias em Cabo Delgado comecem a trabalhar de forma mais transparente e responsável.

"Às instituições que trabalham nos centros ou campos de deslocados internos, precisam de respeitar os valores morais e éticos. É preciso responsabilizar os infractores e mostrar que é possível", afirmou, destacando a importância de se adotar práticas humanitárias que não apenas ajudem, mas que respeitem a dignidade e os direitos das vítimas.

Outro ponto levantado por Gafuro foi a necessidade de envolver mais jovens locais no processo de ajuda humanitária, garantindo que as comunidades não se sintam excluídas.

"É importante que haja envolvimento de jovens das comunas para não se sentirem excluídos. Há coisas que não posso falar nestes fóruns por temer pela minha segurança e pela integridade da minha família", revelou, refletindo sobre a exclusão social que afeta os jovens locais e sua falta de acesso a oportunidades de trabalho nas organizações humanitárias.

Por fim, Gafuro reafirmou a importância de garantir segurança como prioridade para resolver os problemas enfrentados pela população deslocada.

"O que se pôde fazer é segurança. Basta garantir a segurança e a paz, e tudo será resolvido, possivelmente com desenvolvimento local, regional e nacional. Vias de acesso para a circulação de pessoas e bens só são possíveis com segurança e vias em condições para transitabilidade", concluiu.

A denúncia de Abudo Gafuro levanta questões críticas sobre a forma como a ajuda humanitária está sendo conduzida em Cabo Delgado e faz um apelo urgente para que as organizações envolvidas no processo revejam suas práticas, assegurando que os direitos das vítimas, especialmente mulheres e crianças, sejam devidamente respeitados e protegidos. (x)

Por: António Bote

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