Os residentes do distrito de Mocímboa da Praia, província de Cabo Delgado, norte de Moçambique, que falavam em uma entrevista exclusiva à Zumbo FM Notícias, nesta terça-feira, 18 de Março de 2025, descreveram com inquietação e temor a presença dos terroristas na região. Os relatos revelam que, além da imposição de normas sociais, há uma forte componente religiosa nas motivações dos insurgentes, evidenciada pelo tratamento diferenciado dado às vítimas com base na sua crença.
Um dos entrevistados contestou veementemente a ideia de que o terrorismo na região não tem um viés religioso.
"Quando dizem que o terrorismo não tem motivação religiosa, eu não acredito. Uma parte tem motivação religiosa. Porque, quando os terroristas te pegam, te perguntam se és cristão ou muçulmano? E quando você diz que és cristão, tens muita pouca chance de viver. Raras vezes eles te deixam quando você é cristão", disse.
Outro residente narrou, com voz trêmula, situações de execução sumária. "Às vezes, quando eles te pegam, te falam para rezar, e quando você desconssegue, te matam logo", explicou.
O relato de conversão forçada também foi destacado, evidenciando o caráter coercitivo da atuação dos insurgentes.
"Quando eles te sequestram, enquanto você pertence a uma religião cristã, te obrigam a se converter na religião muçulmana", revelou.
Além da motivação religiosa, os insurgentes impõem rígidos códigos de conduta, exercendo uma espécie de controle moral sobre a comunidade.
"Eles não gostam quando te encontram embriagado. Se encontrarem uma pessoa que acabou de beber, eles terminam com a vida desta pessoa. Então, é daí onde você oiça que terroristas degolaram uma pessoa", avançou a fonte.
Apesar dessas práticas, os residentes afirmam que os terroristas reduziram os massacres em massa e passaram a interagir de forma mais direta com a população.
"Mas, atualmente, aqui em Mocímboa da Praia, os terroristas não estão a matar em massa como há muito tempo. Agora, os terroristas convivem normalmente com as pessoas aqui, é normal te encontrar a vender seu negócio, eles bem armados, a te dizerem: 'Estou a pedir isso que você está a vender' ou 'Vende para nós'."
Os entrevistados relataram ainda que muitos dos insurgentes possuem laços familiares na região e circulam livremente pelo distrito.
"Para falar a verdade, os terroristas são pessoas que têm seus pais ou familiares aqui mesmo no distrito, eles às vezes sobem motorizada à luz do dia, passam a fazer suas compras e vão dar aos seus pais, às suas esposas e depois voltam mais nas matas", disse um dos residentes.
Essa liberdade de circulação dos insurgentes dentro da comunidade revela a complexidade do conflito em Mocímboa da Praia.
"Quando são esses casos, não aparecem necessariamente em multidão, mas sim uns dois ou três terroristas, pagam moto-táxi, fazem o que querem fazer, depois voltam de dia", disse.
As declarações dos residentes expõem o duplo caráter da insurgência: um grupo que, ao mesmo tempo em que busca impor uma visão religiosa específica, também exerce poder sobre normas sociais, regulando comportamentos e convivendo abertamente entre a população. Diante desse cenário, a insegurança persiste, deixando a comunidade refém de uma presença constante e intimidadora. (x)
Por: Zumbo FM Notícias
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