Em Cabo Delgado, a realidade dos estudantes do Instituto Técnico de Saúde de Pemba (ITSP), também conhecido como “Lugenda”, tem gerado grande preocupação.
Muitos alunos enfrentam uma série de dificuldades, incluindo expulsões nos campos de estágio, denúncias de corrupção e uma espera interminável para a alocação aos estágios.
Com o término do curso previsto para dezembro de 2025, as incertezas em relação ao futuro profissional desses estudantes aumentam a cada dia.
Os relatos de expulsões durante o estágio no Hospital Provincial de Pemba são comuns entre os estudantes da instituição.
Segundo um aluno, que preferiu não se identificar, o tratamento dispensado aos alunos da instituição é claramente inferior.
“Quando fomos expulsos no estágio, especificamente no Hospital Provincial de Pemba, os enfermeiros logo perceberam que éramos da instituição ‘Lugenda’. A partir daquele momento, fomos tratados como inferiores, sem qualquer respeito, pois essa instituição não cumpre com suas obrigações financeiras. A nossa credibilidade foi afetada e a diferença foi visível", disse o estudante à Zumbo FM Notícias, na última quinta-feira, 13 de Março de 2025.
A fonte em anonimato explicou que a instituição tem perdido confiança de muitos profissionais de saúde, o que dificulta a alocação dos estudantes aos campos de estágio.
Outro formando, que também foi expulso, detalhou como a confusão surgiu quando tentavam realizar exames: "Fomos expulsos porque a nossa instituição tinha uma dívida antiga. A responsável pela área de saúde simplesmente nos disse que não realizaríamos os exames. Quando perguntamos, ela alegou que a dívida era de anos passados e, sem mais explicações, nos mandou embora.” Esse episódio ocorreu há mais de dois meses, e os alunos afetados ainda aguardam uma resolução.
Além das expulsões, os estudantes enfrentam acusações graves sobre práticas de corrupção dentro da própria instituição e nos campos de estágio.
Um aluno, que falou em anônimato, revelou que é comum a cobrança de dinheiro por parte de formadores para garantir a aprovação nas provas.
“O que está acontecendo na minha instituição é algo meio estranho para nós que estamos a passar por isso. Estamos quase quatro meses, indo para cinco, em casa, à espera de estágio. Todos os dias dizem para esperar, mas nunca nos dão uma resposta clara sobre isso. O tempo previsto para terminar o curso é o ano em curso de 2025, em Dezembro, mas o que está acontecendo agora, nesses quatro meses, está bem além do que foi estimado no início do ano. Isso é frustrante, porque pagamos mensalidades, já pagamos pelo estágio, mas ainda estamos em casa.”
De acordo com este estudante, a situação piorou quando, no mês passado, os alunos foram obrigados a pagar urgentemente pelas taxas do estágio, mas, até o momento, continuam sem estágio:
“No mês passado, fomos obrigados a pagar para o estágio, e todos pagaram, mas, até agora, ainda estamos em casa.”
A insatisfação não se resume apenas aos formandos afetados pela falta de estágios. Os estudantes também enfrentam dificuldades com seus encarregados, que pagam as mensalidades, sem entender o motivo dos atrasos e a falta de respostas:
“Há um prejuízo para nós, estudantes, porque nossos responsáveis, que pagam as mensalidades, acham que estamos gastando o dinheiro com outras coisas. Eu, pessoalmente, já fui perguntado pelos meus pais se reprovei ou não. Ou estou reprovado, ou estou escondendo a verdade, quando na realidade não é isso que está acontecendo.”
A preocupação dos pais é visível, uma vez que o pagamento continua a ser feito sem a certeza de que os estudantes estão realmente a realizar os estágios ou a cumprir as atividades necessárias para a conclusão do curso. Um outro estudante fez questão de destacar o impacto psicológico desta espera prolongada:
“Meus pais continuam a reclamar e, mesmo assim, me dão dinheiro com a incerteza de que estou pagando. Mostro os comprovantes de pagamento, mas mesmo assim fica difícil acreditar. Eu compreendo, pois fico 4 ou 5 meses em casa. Isso não é normal. Até penso que reprovei, mas a escola não me diz nada.”
O estudante também apontou que, no ano passado, o problema foi menos grave, com uma espera de apenas dois meses, mas que, neste ano, a situação está ainda pior:
“No ano passado, tivemos dificuldades parecidas, mas não duraram tanto. Foram só dois meses em casa, mas este ano está bem pior.”
Outro aspecto que agrava ainda mais a situação é a falta de informações sobre o futuro dos alunos. Muitos estudantes já começam a questionar a viabilidade de terminar o curso dentro do prazo estipulado, já que o último semestre está a ser extremamente comprometido:
“O tempo para concluir o curso é dezembro. Se passar disso, não teremos mais fundos, porque o planejamento em casa foi feito até dezembro deste ano, e no próximo ano não posso ser o único a estudar, enquanto meus irmãos também precisam desse dinheiro. Assim fica difícil.”
A indignação é generalizada entre os formandos, que também mencionam que não são apenas eles a sofrer com esta situação. De acordo com os relatos, diversas turmas estão a enfrentar os mesmos problemas:
“Não é só uma turma que está passando por isso. São várias turmas.”
O problema financeiro é uma constante, pois os estudantes pagam as taxas do estágio, mas não têm a certeza de quando ou se realmente irão estagiar:
“Pagamos para o estágio parcial, que custa 1.500 meticais.”
Em relação ao tratamento dispensado pela instituição, um dos alunos não hesitou em afirmar que a instituição está a prejudicar os formandos, uma vez que estão a pagar por um serviço que não está a ser oferecido:
“Para mim, a instituição está prejudicando os formandos, porque estamos pagando há meses, sem fazer nada. Isso é injusto. Poderia até dizer que é um roubo. Não estamos no estágio, mas ainda assim continuamos pagando.”
Os relatos também indicam práticas irregulares relacionadas às avaliações e ao tratamento dos estudantes pelos formadores. Um dos formandos mencionou que, em vários momentos, os estudantes são pressionados a pagar para garantir a aprovação em determinadas disciplinas:
“Já vi esse tipo de cobrança para passar de cadeira. Não que eu tenha pago, mas vi colegas sendo pressionados a pagar para garantir aprovação.”
De acordo com o mesmo aluno, há uma ligação entre os formadores e os chefes de turma para que as contribuições sejam feitas nos momentos de avaliação. Essas contribuições, segundo ele, acabam sendo obrigatórias para alguns estudantes, sob o risco de reprovação:
“Na escola, existe uma ligação entre os chefes de turma e os próprios formadores. Durante os exames, fazemos a contribuição e entregamos ao chefe de turma. Às vezes, isso é obrigatório, porque o aluno que acha que não vai passar, acaba pagando. Quem sabe que vai passar com suas notas, e não paga, acaba reprovando. Os formadores querem que todos paguem para não faltar ninguém.”
Além disso, o aluno mencionou que, mesmo que um estudante não precise pagar, a pressão para fazê-lo existe, e o medo de reprovação é constante:
“Primeiro, você não é descartado totalmente por não pagar ao formador. Mas você acaba sendo colocado em recorrência. O aviso é: se você não paga, na recorrência, se não der algo, o formador vai fazer você perder o curso e esperar outra turma para reintegração. Então, a gente tem medo de não passar, mesmo sabendo que pode passar com conhecimento. A gente paga por medo de reprovar.”
O estudante também destacou que, muitas vezes, a corrupção parte dos próprios alunos que, com medo de reprovarem, iniciam essa dinâmica de pagamentos extras para garantir a aprovação:
“Às vezes, a corrupção parte dos formadores, mas muitas vezes são os próprios alunos com medo de reprovar que iniciam isso. Os alunos com notas baixas, que se acham fracos. E isso acaba afetando os outros que poderiam passar sem pagar. Não são só os formadores, nem só os alunos. Há uma ligação entre ambos.”
Por fim, ele revelou que já pensaram em denunciar essas práticas, mas a maioria dos colegas que depende dessas contribuições para passar preferem não se envolver:
“Já pensamos em denunciar isso. Pelo menos nós, que achamos que vamos passar sem pagar, mas a maioria da turma, que depende dos pagamentos para passar, recusa. Eles dizem para não fazer a denúncia, pois dependemos dos formadores para terminar o curso, então acabamos deixando tudo isso seguir.”
A situação descrita pelos estudantes levanta sérias questões sobre a gestão do Instituto Técnico de Saúde de Pemba e o tratamento dispensado aos seus alunos. A falta de respostas claras e a pressão financeira e psicológica sobre os formandos evidenciam um sistema que, para muitos, está a comprometer não só o seu futuro profissional, mas também a sua dignidade.
Carlos Alberto, um pai que procurou informações sobre o caso, disse:
“É inaceitável que, mesmo pagando mensalidades, os estudantes fiquem tanto tempo sem estágio ou aulas. Precisamos de respostas claras e urgentes sobre essa situação.”
Em reacção às preocupações, o Director-Geral do Instituto Técnico de Saúde de Pemba, Rosário Faquihe, compartilhou detalhes sobre a situação dos estudantes da instituição, abordando tanto os desafios enfrentados no estágio quanto as preocupações com possíveis casos de corrupção nas unidades sanitárias. Faquihe explicou as dificuldades enfrentadas pelos estudantes que estavam com problemas para regularizar suas propinas, ressaltando que esses problemas não têm uma ligação direta com o campo de estágio.
“Os estudantes que foram tirados e que tinham problemas de propinas, depois de serem tirados, geriram o seu stress, geriram a sua ansiedade, mas depois regularizaram as suas propinas. Essas propinas não têm uma ligação direta com o campo de estágio, porque, quando os estudantes vão lá, há uma taxa de pagamento, mas a responsabilidade aqui acaba caindo nas unidades sanitárias. Exemplo: o HPP tirou os estudantes dizendo que a instituição não paga, mas a resposta acaba sendo a mesma: o pagamento é depois do término do estágio. Tivemos um caso muito triste de turmas que estavam no último ano e ficaram privados, todo o mês de fevereiro, de levantar os seus certificados, porque a pessoa que acompanhava cobrava que só poderia trazer as notas com a troca pelo seu pagamento. Não é possível fazer pagamento nessas condições. Reter as notas não é solução, e isso aconteceu, inclusive, em Montepuez. Mais uma vez, tivemos que falar com as autoridades do distrito da unidade sanitária. Tardiamente, mandaram as notas, e as pessoas foram imediatamente pagas", frisou.
Faquihe também comentou sobre a situação atual dos estudantes, destacando que 120 alunos já têm programas de estágio definidos, incluindo os que enfrentaram constrangimentos anteriores.
“Neste momento, temos estes que ficaram um tempo paralisados, e vão se juntar também com outros estudantes que ainda não têm o programa estabelecido. Mas já está estabelecido, temos por volta de 120 estudantes que devem ir ao campo de estágio. Aí estão incluídos os que tiveram constrangimentos, e vamos juntar com os novos que terminaram agora a teoria, que também vão ao estágio", explicou.
O Director-Geral também se referiu aos relatos de corrupção que têm chegado à instituição.
"Mas também queria acrescentar a isso que grande parte das situações relacionadas à corrupção assumimos que pode não estar acontecendo no interior da instituição. Geralmente, as pessoas procuram se subornar no ambiente de estágio, porque lá é o momento para as pessoas perderem o curso. Geralmente, acontece mais lá. Eu volto a dizer que nós não temos uma evidência. Os estudantes têm medo de denunciar", observou.
Faquihe mencionou, ainda, um caso específico em que um grupo de estudantes estava sendo mobilizado para ser extorquido durante o estágio.
“Tivemos algumas informações ao nível do hospital. Um grupo estava sendo mobilizado para ser extorquido, e essa preocupação nós apresentamos por carta ao Prol do hospital, porque, naturalmente, quem tem que investigar é a própria unidade sanitária. Para nós, é importante que nos apresentem se houve ou não esse fenómeno de corrupção. Desafio a imprensa a, nesses focos, também nos ajudar a procurar, pelo menos, um estudante que tenha sido extorquido, dizendo o nome, o valor e a pessoa a quem ele entregou. Assim, teríamos material suficiente para perseguir os assuntos com objetividade. Na verdade, essa informação chega até nós, mas chega incompleta, e nós acreditamos que esses fenômenos podem acontecer", disse.
Faquihe também comentou sobre uma situação envolvendo um docente da instituição que foi acusado de cobrar taxas adicionais nas avaliações.
“Uma das coisas que nós analisamos é que essas situações acontecem em momentos em que a nossa instituição, por qualquer razão, demora a pagar os docentes, e nesse tempo, que são tempos críticos, ouvimos, em forma de informações espalhadas, que um dado grupo de docentes está extorquindo estudantes. As evidências não chegam. Mesmo perguntando aos docentes, eles não vão friamente aceitar as acusações. Já tivemos um docente que não era bem extorsão, mas pode ser classificado como corrupção, que cobrava um dinheiro a mais de uma taxa de avaliações. As taxas de avaliações são cobradas ao preço de 10 MT", explicou.
Por fim, Faquihe tranquilizou os estudantes que estavam pendentes para iniciar os estágios, informando que a situação está sendo resolvida com urgência.
“Os estudantes que estavam em casa, cujos cronogramas foram revistos, irão para os campos de estágio em menos de uma semana. Esta semana mesmo, temos os valores do pagamento do estágio, e as unidades confirmaram que já receberam os estudantes. Os estudantes que estavam pendentes poderão iniciar o estágio dentro de poucos dias, provavelmente na próxima semana", afirmou. (x)
Por: Zumbo FM Notícias
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