O governador de Cabo Delgado, Valige Tauabo, voltou a afirmar que a província está “a caminho da estabilidade definitiva”, mesmo diante do longo histórico de ataques armados que afligem a região há quase oito anos.
A declaração foi proferida neste sábado (17), em Metoro, distrito de Ancuabe, durante o lançamento da campanha de comercialização agrária de 2025. Com um tom de confiança, Tauabo elogiou o desempenho das Forças de Defesa e Segurança (FDS) e garantiu que existem sinais claros de recuperação.
“Estamos a ter cada vez mais um bom ambiente na província de Cabo Delgado. Um bom ambiente mesmo (...), com esse trabalho que estão a realizar as nossas forças. A esses intrusos já lhes foi dada a oportunidade para se entregarem às comunidades, às famílias, se forem moçambicanos”, declarou.
O governador destacou que só foi possível realizar o evento em Ancuabe devido à melhoria das condições de segurança.
“Hoje estamos a conseguir vir aqui até Ancuabe porque há estabilidade”, reforçou, acrescentando que a reintegração dos insurgentes é possível, desde que se apresentem de forma honesta.
Com esperança visível, Tauabo projetou uma viragem definitiva ainda para este ano.
“As FDS precisam de nós. Porque esses que estão a criar esta situação toda na província convivem connosco, são nossos filhos, são nossos sobrinhos, são nossos irmãos.”
Contudo, nem todos compartilham da mesma visão. Para o jornalista António Bote, da Zumbo FM Notícias, que acompanha de perto a realidade da província, a promessa de estabilidade definitiva deve ser encarada com responsabilidade e realismo.
“Eu, como jornalista e com base nos relatos que tenho vindo a colher junto da população afectada pelo terrorismo, afirmo sem receio que os terroristas ainda estão a intensificar as suas incursões, principalmente na zona norte da província de Cabo Delgado.”
“De acordo com o que tenho vindo a acompanhar junto das comunidades, não restam dúvidas de que o terrorismo ainda persiste, embora esteja a ocorrer de forma mais esporádica, diferente do que se verificava há dois ou três anos. Ademais, nem posso afirmar nem negar que estamos a caminho de uma paz definitiva na província de Cabo Delgado. Digo isto porque, sinceramente, não sei se estão a ser aplicadas novas abordagens no combate ao terrorismo. Só as forças no terreno e o governo podem realmente fundamentar se estamos, ou não, a caminhar para a paz definitiva. Para terminar, é preciso que o governo deixe de praticar o discurso epidíctico e permita que as acções falem por si.”
As palavras de Bote reflectem o sentimento de prudência que cresce entre aqueles que pedem cautela no uso do termo “estabilidade definitiva”, num contexto ainda volátil e marcado por muitos desafios.
Só em 2024, pelo menos 349 pessoas morreram em ataques de grupos extremistas islâmicos na província de Cabo Delgado, um aumento de 36% em relação ao ano anterior, indicam dados divulgados recentemente pelo Centro de Estudos Estratégicos de África, uma instituição académica do Departamento de Defesa dos Estados Unidos que analisa conflitos no continente.
Além de Cabo Delgado, palco destes ataques e movimentações terroristas desde 2017, a vizinha província de Niassa também foi atingida em Abril, quando membros destes grupos decapitaram dois guardas-florestais.
E a pergunta que não se cala é a seguinte: Cabo Delgado está, de facto, a virar a página do conflito… ou estaremos apenas a escrever mais um capítulo de uma ilusão?(x)
Por: Bonifácio Chumuni
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