O herói da independência e primeiro primeiro-ministro do Congo foi fuzilado numa emboscada a 17 de janeiro de 1961. A família ainda tem esperança de levar os responsáveis belgas da antiga colónia a julgamento.
O carismático herói da independência do Congo foi assassinado há 60 anos num crime que causou indignação em todo o mundo. Numa das últimas cartas que escreveu, disse: "A nação saberá que me ofereci como refém pela sua liberdade."
A 17 de janeiro de 1961, o jovem de 35 anos foi fuzilado no sudeste do Congo, durante os caóticos primeiros meses da independência. Seu corpo, dissolvido em ácido, nunca foi encontrado, exceto por um dente.
De funcionário dos correios a primeiro-ministro do Congo independente, Patrice Lumumba é considerado um herói africano. Fez do combate ao colonialismo um objetivo de vida e foi também por ele que morreu.
O líder nacionalista que simpatizava com ideias comunistas era visto como uma ameaça aos interesses belgas, especialmente na província rica em cobre de Katanga. Mensagens diplomáticas entre Bruxelas e representantes da ex-colónia descreviam Lumumba como o "diabo" e um homem a ser "eliminado".
Lumumba tornou-se o primeiro primeiro-ministro do Congo independente a 30 de junho de 1960, mas foi rapidamente destituído do poder, em setembro, e colocado em prisão domiciliária, depois do caos em que o país mergulhou após a independência. Em novembro do mesmo ano, Lumumba tentou apanhar um voo para fora do país, mas foi capturado e levado para Lumumbashi (designada Élisabethville até 1966), na província de Katanga, onde foi assassinado.
Sessenta anos depois, uma investigação na Bélgica por "crimes de guerra" está na fase final, disse em entrevista à agência de notícias AFP o advogado Christophe Marchand, que apresentou uma queixa em 2011 em nome de François Lumumba, filho do líder assassinado.
"Vamos a uma audiência este ano na câmara do conselho do tribunal de Bruxelas para ver se o caso pode ou não levar a um julgamento com júri", explicou.
Reparação histórica
Apenas dois dos 10 denunciados no processo ainda estão vivos, nomeadamente, Etienne Davignon, ex-diplomata belga e ex-vice-presidente da Comissão Europeia, e o ex-funcionário público Jacques Brassinne de la Buissiere. A defesa acusa "várias administrações do Estado belga" de terem "participado numa vasta conspiração com vista à eliminação política e física de Patrice Lumumba".
Segundo o advogado, o exército belga manteve cerca de 200 soldados para apoiar as forças de segurança da província separatista de Katanga, onde o crime ocorreu. Em dezembro, o Presidente da RDC, Felix Tshisekedi, disse que a Bélgica devolveria o dente - o único resto mortal de Lumumba - para sua família a tempo das celebrações do aniversário da independência em 30 de junho.
"É um símbolo importante para a família e para todo o povo congolês", disse à AFP o chefe da procuradoria federal belga, Frederic Van Leeuw. A restituição deve ocorrer nas próximas semanas ou meses numa cerimônia oficial em Bruxelas com a presença dos filhos do falecido, acrescentou o promotor.
Juliana Lumumba, filha do ícone assassinado, pediu a devolução do dente numa carta dirigida ao rei Filipe da Bélgica no ano passado, na altura dos protestos do movimento Black Lives Matter (Vidas negras importam, em inglês). (x) Fonte: DW