Todos os 20 postos fronteiriços terrestres sul-africanos estão encerrados até o próximo dia 15 de fevereiro numa tentativa de conter a segunda onda da pandemia do novo coronavírus.
A medida anunciada no passado dia 11 pelo Presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, não caiu no agrado dos moçambicanos e, mais do que isso, tem levado muitos ao desespero sobretudo em Ressano Garcia, a 100km da capital, Maputo.
Muitos, especialmente os mais jovens, continuam nas fronteiras e tentam mesmo entrar na África do Sul ilegalmente.
Adérito Torres, 27 anos, está na fronteira de Ressano Garcia, província de Maputo, desde 6 de janeiro e pretende regressar a África do Sul, onde tem emprego e família. Não tem passaporte mas diz que tem de entrar no país vizinho a todo custo.
"Tenho de viajar, não há como. Sou residente lá. Assim estou com o coração na mão nem sei como vou chegar, mas tenho de viajar. À vinda não tive problemas e apanhei boleia num machimbombo”, conta à DW África.
Travessias ilegais
A fronteira de Ressano Garcia está a funcionar com restrições mas há dezenas de jovens de mochila às costas, desesperados, empoleirados nos muros e em baixo das árvores, para se esconderem do intenso calor, à espera de anoitecer para tentarem a atravessia.
A entrada ilegal é feita mediante o pagamento do valor que varia entre o equivalente a seis e nove euros aos chamados "agentes” que ajudam na travessia com a cumplicidade da polícia dos dois países.
Luís dos Santos, que lidera um grupo de jovens que querem atravessar, tendo ou não passaporte, conta que sempre entrou sem documento para a África do Sul, mesmo em tempos de Covid-19.
"Eu sinto-me bem apesar de haver dúvidas se que a viagem pode ou não correr cem por cento bem porque pode acontecer algum lapso. Mas, sempre viajei antes disto, sempre viajava. Havendo ou não lockdown a viagem é sempre possível”, admite.
Na tentativa de entrar no esquema de furar as fronteiras, as coisas não correram bem para Marcelina Munjovo de 35 anos. Tem passaporte mas não elegível para atravessar. Pagou o equivalente a onze euros e foi burlada.
"Foi o meu primo. Ele é que disse venham com dinheiro não tragam carro. Vem com dinheiro na mão e eu vou dar carro [para atravessar]. Só que pronto, eles pensam que estão a arranjar a vida assim mas não é tão bem assim” lamenta frustrada.
Anúncio tardio do fecho?
Mesmo com passaporte há quem não consiga entrar na África do Sul como aconteceu com Alberto Mausse que esteve na fronteira de Ressano Garcia durante uma semana por não ser cidadão prioritário, mas acabou por voltar para casa.
"Assim que de repente fecharam a fronteira. como vamos fazer? Das outras vezes que fazem o lockdown avisam mas agora nós estamos aqui, com passaportes já não podemos entrar e o que devemos fazer? Se ao menos aceitassem entrarmos para devolvermos os bens dos nossos amigos que pedimos emprestado podíamos depois voltar.”
O porta-voz da Direção Nacional de Migração, Celestino Matsinhe, acusa as autoridades sul-africanas de terem informado tardiamente sobre o fecho da fronteira.
"A informação chegou tardiamente cá deste lado e em condições normais era preciso comunicar com antecedência para podermos informar aos nossos concidadãos que as viagens para a África do Sul estão restritas. Mesmo assim estamos a envidar esforços para informar os cidadãos que a entrada na África do sul está restrita”, explicou à DW Áfica.
Até o dia 15 de fevereiro, data em que está prevista a abertura das fronteiras, apenas entram na África do Sul "cidadãos sul-africanos, cidadãos estrangeiros residentes na África do Sul, diplomatas, viagens por questões médicas e transportes de mercadorias”, segundo as explicações de Celestino Matsinhe.
Segundo o ministro dos Transportes de Moçambique, Janfar Abdulai, o fecho de fronteiras com África do Sul terá "consequências graves" para o país.(x) Fonte: DW