Em Moçambique, já regressaram às suas casas 21 pessoas que foram raptadas por terroristas, no início do ano. Administradores em Cabo Delgado pedem melhores condições de saúde para os deslocados.
Foram dias de muita angústia e desespero, que, muito provavelmente, nunca se apagarão das memórias das 21 pessoas raptadas em princípios de janeiro na ilha de Matemo, distrito do Ibo.
Passaram vários dias na floresta, sem comer, mas foram resgatadas na semana passada, em Olumbua, distrito de Macomia, pelas Forças de Defesa e Segurança (FDS). Na segunda-feira (18.01), regressaram à terra natal.
Aos resgatados faltaram palavras para descrever a sua enorme alegria: "Agradeço bastante por regressar à minha terra. Já encontrei a minha família e todos os meus amigos", disse uma criança.
"Estou muito feliz, cheguei a casa com toda a minha família e estamos todos de boa saúde", afirmou outra resgatada.
Autoridades pedem vigilância e união
No dia do regresso dos resgatados à terra natal, o governador de Cabo Delgado, Valige Tauabo, pediu um aumento da vigilância na ilha de Matemo para impedir a entrada dos invasores.
"Os nossos soldados estão na mata a trabalhar, sem dormir nem comer. Por isso, estou a pedir: minhas mães, meus pais e os nossos jovens, vamos ser unidos e não deixar essa guerra ir em frente", apelou o governador.
"Enquanto não apoiarmos os nossos soldados, o trabalho que eles estão a fazer não vai andar bem", sublinhou Tauabo.
A polícia comunitária em Matemo garante que está atenta, para proteger a ilha.
As dificuldades
A violência no centro e norte da província de Cabo Delgado já provocou mais de 560 mil deslocados. Uma das preocupações das autoridades neste momento é fazer com que estas pessoas tenham acesso a serviços de saúde, particularmente em tempo de pandemia.
Na semana passada, durante uma reunião do setor da saúde que visava delinear estratégias para lidar com os problemas que a província de Cabo Delgado enfrenta na componente sanitária, alguns administradores distritais apresentaram ao ministro do pelouro as condições difíceis a que as famílias reassentadas, devido ao terrorismo, estão sujeitas.
"Neste momento temos muitos deslocados e eles estão a ser reassentados distantes dos centros de saúde", revelou António Valério, administrador de Metuge. "Temos, por exemplo, Intocota, que está a mais ou menos 25 quilómetros, e é muito complicado fazermos com que os doentes tenham acesso a um centro de saúde em curto espaço de tempo. Não há condições de transporte dos doentes."
Lúcia Namashulua, administradora do distrito de Ancuabe, pediu mais meios e lembrou que "os APs [Agentes Polivalentes] não são funcionários do Estado e não têm as mesmas obrigações que um funcionário tem, de estar a tempo inteiro a atender os doentes".
Por isso entende que, "se houvesse possibilidade", ou se deveria multiplicar o número de APs ou aumentar o seu subsídio, "de maneira a que se possa estar a atender as nossas famílias deslocadas".
Promessa
Face às preocupações apresentadas, o ministro da Saúde, Armindo Tiago, anunciou a disponibilidade de fundos para a instalação, a breve trecho, de "alpendres de saúde" nas aldeias de reassentamento para o atendimento imediato dos doentes.
"Vamos construir alpendres comunitários nesses locais e serão liderados pelos APs que vão começar a fazer o trabalho", prometeu o ministro.
"O alpendre também vai permitir que as brigadas móveis que saem da unidade sanitária possam ir fazer consultas na comunidade para diminuir os custos de saúde do nosso povo."(x) Fonte: DW