Analista diz que a deslocação do chefe da diplomacia portuguesa a Moçambique clarificou várias "áreas de penumbra" da cooperação com a UE. Em particular, sobre os próximos passos a dar em relação a Cabo Delgado.
Terminou esta quinta-feira (21.01) a visita do ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, Augusto Santos Silva, em nome do Alto Representante e vice-presidente da Comissão Europeia, Josep Borrell.
O chefe da diplomacia portuguesa manteve durante dois dias contactos políticos de alto nível com as autoridades moçambicanas, em que o tema central foi a situação em Cabo Delgado.
Augusto Santos Silva disse aos jornalistas que, no encontro com o Presidente da República, Filipe Nyusi foi claro na identificação de três áreas em que o incremento da cooperação pode beneficiar imediatamente Moçambique.
"Na área da formação e formação militar, do apoio à ação humanitária para a população de Cabo Delgado e também na área de maior trabalho da União Europeia (UE) em apoio à Agência para o Desenvolvimento do Norte de Moçambique."
O governante português referiu que saiu satisfeito da reunião porque, tendo as autoridades moçambicanas identificado as prioridades, será agora mais fácil chegar ao "desenho concreto do apoio europeu".
"Um sucesso"
A ministra dos Negócios Estrangeiros de Moçambique, Verónica Macamo, considerou que a visita do homólogo português foi "um sucesso".
"O chefe de Estado moçambicano tomou boa nota da manifestação do interesse da UE em cooperar com Moçambique no combate ao terrorismo", afirmou Macamo.
A visita segue-se a uma solicitação de ajuda feita por Moçambique à UE face aos ataques de alegados grupos jihadistas na província nortenha de Cabo Delgado, que provocaram desde outubro de 2017 mais de dois mil mortos e 560 mil deslocados internos.
Cabo Delgado é palco de grandes investimentos multinacionais na exploração de gás natural.
Clarificar temas pendentes
Ouvido pela DW África, o jornalista Fernando Lima considera que a visita do ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal foi importante para clarificar vários temas pendentes - por um lado, a questão do apoio face à situacão de segurança em Cabo Delgado; por outro, os novos desenvolvimentos no relacionamento de Moçambique com os doadores, depois da crise gerada pelas "dívidas ocultas".
"Na comunidade doadora, há um sentimento de que há que retomar as relações com Moçambique", explica Fernando Lima. "Isto está dependente também de um sinal claro do FMI [Fundo Monetário Internacional]. De qualquer forma, sendo a UE um dos principais parceiros de Moçambique, é bom que Moçambique e a UE se entendam em relação a futuros passos."
Quanto à situação em Cabo Delgado, Fernando Lima diz que os doadores pretendem saber em concreto o tipo de ajuda que Moçambique gostaria de receber para combater os alegados jihadistas e para prestar assistência humanitária às populações afetadas.
"O meu entendimento é que a deslocação do ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, em nome da União Europeia, veio clarificar muitas dessas áreas de penumbra, uma vez que nas últimas semanas também houve comentários públicos pouco amistosos em relação ao próprio Governo de Moçambique."
A ajuda ao país "é extremamente urgente", conclui o analista, mas primeiro é necessário "concordar numa agenda" para depois "partir para a ação".(x) Fonte: DW