O Conselho de Segurança da ONU reúne-se esta quarta-feira para tentar encontrar um consenso sobre a resposta a dar à crise no Myanmar, praticamente dois meses depois de os militares derrubarem o governo de Aung San Suu Kyi. A líder birmanesa mantida em detenção desde o golpe deve comparecer amanhã perante a justiça.
Os membros do Conselho de Segurança devem decidir imperativamente "cortar os meios financeiros da junta e levar os autores das atrocidades perante o Tribunal Penal Internacional", escreveu na rede Twitter, Tom Andrews, relator especial da ONU para a Birmânia.
Uma tarefa que se anuncia difícil. Enquanto os Estados Unidos e a Grã-Bretanha acabam de anunciar novas sanções, a China e a Rússia recusam condenar formalmente o golpe, Moscovo tendo inclusivamente manifestado a intenção de confortar a sua cooperação militar com o regime birmanês.
Entretanto, Aung San Suu Kyi, a líder civil derrubada, prepara-se para comparecer amanhã perante a justiça, sob diversas acusações, nomeadamente de importação ilegal de material electrónico e corrupção. Ao evocar a perspectiva desta audiência com base em acusações que qualifica de “forjadas”, o seu advogado, Min Min Soe, disse ter conversado com ela por videoconferência e que ela “parece estar bem de saúde”.
Na rua, a resistência continua. Ontem, de acordo com a Associação de Assistência a Presos Políticos (AAPP), 8 pessoas foram mortas a tiro pelas forças de segurança, sendo que se contabilizaram mais de 520 civis mortos desde o golpe, sem contar as inúmeras pessoas desaparecidas.
Perante a repressão sangrenta perpetrada pelos generais, o Japão anunciou a suspensão do seu apoio à Birmânia, para enviar "uma mensagem clara" ao regime, sem contudo optar por sanções. A nível de intervenientes privados, alguns grupos, como a companhia francesa de electricidade EDF, optaram por suspender os seus projectos no Myanmar.
Já o grupo hoteleiro francês Accor, sexto maior operador mundial neste sector, declarou hoje que não se vai retirar do país, onde detém 9 hotéis e emprega mil funcionários. Apesar de dar conta da sua “preocupação com a escalada da violência”, a Accor disse acreditar que “o turismo é o último elo que liga o povo birmanês ao mundo” e considerou ter “criado muitas oportunidades de emprego para os habitantes”.(x) Fonte: RFI