Um especialista diz ser complicado, neste momento, falar em soluções para o problema de Cabo Delgado, porque o conflito entrou numa dimensão tal que é difícil inverter a situação, e acredita que o projecto de gás natural possa avançar, mas, eventualmente, com outras contrapartidas não muito vantajosas para os moçambicanos.
"Esta é uma situação de guerra", considera o pesquisador e coordenador técnico do Observatório do Meio Rural, João Feijó, para quem, os jihadistas já se consolidaram, quer a nível local, quer, aparentemente, em termos de apoio externo.
Feijó entende que uma solução militar para o conflito é muito complicada, e desenvolver a província num cenário de caos total e sem segurança vai ser um desafio enorme.
Além disso, reconstituir as actividades económicas das pessoas, neste momento, é muito complicado, agravado pelo facto de os empresários locais terem mercadoria empatada, por causa da insegurança.
Mudar o paradigma
E a consequência desta situação é a geração de uma economia retalhista, pelo que é necessário mudar, por completo, o paradigma, apostando fortemente no desenvolvimento do pequeno comércio rural e da agricultura local.
Considerando que o projecto de gás natural liquefeito está ameaçado, uma vez que a Total interrompeu o trabalho até o Governo garantir a segurança, João Feijó realça que o Governo tem que provar que a situação está sob controlo.
"Mas", sublinha o pesquisador, "é clara a fragilidade do Governo em termos de formação e capacitação dos militares, logística, telecomunicações e de inteligência".
Feijó refere que para a capacitação acontecer, poder-se-à demorar um ou dois anos "e, entretanto, perdemos tempo, porque o projecto de gás é rentável internacionalmente num prazo de 12 ou 15 anos, e quanto mais tarde iniciar, menor será o seu ciclo de rentabilidade, logo, menos interessante se torna investir ".
Para João Feijó, a possibilidade que pode surgir é o projecto avançar, mas com outras contrapartidas. "Há várias possibilidades em jogo, mas todas elas não serão vantajosas para nós".(x) Fonte: VOA