A organização não-governamental (ONG) portuguesa Oikos alertou na passada quinta-feira (08.04) que a crise humanitária no norte de Moçambique, onde presta apoio na resposta de emergência aos deslocados pelos ataques na vila de Palma, está "perto de atingir as 800 mil pessoas".
"Omais recente ataque em Palma causou uma movimentação ainda maior de pessoas que fogem para outros distritos à procura de ajuda e sobrevivência face à crise humanitária no Norte de Moçambique que está perto de atingir as 800 mil pessoas", referiu a ONG portuguesa num comunicado.
A Oikos apontou ainda que os distritos de Mueda, Nangade, Montepuez, Pemba e Nampula são os mais afetados, dizendo que "está nestes distritos" a "integrar algumas famílias deslocadas nas comunidades onde trabalha na área da segurança alimentar".
A ONG portuguesa alertou também para a "falta de tudo" para fornecer a assistência humanitária adequada nos centros de acolhimento que recebem estes deslocados pela violência no norte de Moçambique.
"Nos centros de acolhimento, falta de tudo para suprir as necessidades básicas: alimentação, higiene e abrigo, sem esquecer a necessidade de apoio à proteção, nomeadamente da violência a meninas e mulheres e às crianças no geral", lê-se no documento.
A Oikos sinalizou também para o "risco de conflito eminente com as comunidades locais, que sentem a pressão da escassez de recursos".
"A maioria das famílias muito pobres esgotou as suas reservas de alimentos e as mais vulneráveis estão a envolver-se em estratégias de sobrevivência, incluindo o consumo de alimentos silvestres", disse o comunicado, apontando que as famílias de acolhimento realizam um esforço para alimentar "três a quatro vezes mais pessoas dentro do seu lar".
Nesse sentido, a organização lançou um apelo para "apoios urgentes" para garantir os bens essenciais junto das pessoas deslocadas "que continuam a chegar aos centros de acolhimento temporários".
O número de deslocados de Palma subiu para 13.964, dos quais 44% são crianças, segundo as novas estimativas da Organização Internacional para as Migrações (OIM), que apresenta dados recolhidos entre 27 de março e hoje.
Durante o dia de hoje, as Nações Unidas mostraram-se preocupadas com a violência no norte de Moçambique.
O porta-voz do secretário-geral das Nações Unidas afirmou que a ONU e parceiros internacionais estão "a seguir de perto e com profunda preocupação" novos relatos de violência contra civis, "incluindo alegadas decapitações e relatos não verificados de uso de crianças-soldado".
A preocupação da ONU é sobre a situação "dos civis que fugiram da violência e daqueles que permanecem em Palma", segundo o porta-voz de António Guterres, Stéphane Dujarric.
A violência desencadeada há mais de três anos na província de Cabo Delgado ganhou uma nova escalada há cerca de duas semanas, quando grupos armados atacaram pela primeira vez a vila de Palma, que está a cerca de seis quilómetros dos multimilionários projetos de gás natural.
Os ataques provocaram dezenas de mortos e obrigaram à fuga de milhares de residentes de Palma, agravando uma crise humanitária que atinge centenas de milhares de pessoas na província.(x) Fonte: Notícias ao Minuto