Conselho Nacional de Defesa e Segurança de Moçambique pede às forças governamentais que intensifiquem a luta contra os insurgentes em Cabo Delgado, no norte do país. Violência levará a atrasos nos projetos do gás.
"O órgão instou as Forças de Defesa e Segurança a intensificarem o combate arrojado contra as forças inimigas com vista a garantirem a proteção das populações, bem como criar as condições para o contínuo e rápido regresso aos pontos de origem em segurança", referiu uma nota da Presidência da República, emitida esta sexta-feira (09.04) após uma reunião extraordinária do órgão em Maputo.
Segundo a nota, o órgão condenou também os ataques à vila de Palma, registados em 24 de março, classificando-os como uma "grosseira violação dos direitos humanos".
"O Conselho Nacional de Defesa e Segurança endereçou uma mensagem de condolências aos familiares das vítimas do terrorismo", acrescentou a nota, na qual o órgão saúda a decisão da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) de enviar "uma equipa técnica" a Moçambique para a avaliação das necessidades do país visando o combate aos grupos armados que protagonizam ataques na província de Cabo Delgado.
"O órgão reiterou, com sentido de urgência que o assunto exige que sejam executadas e aprimoradas as melhores formas de intervenção que defendam os interesses das populações de Moçambique e da SADC, em geral", frisou.
A violência desencadeada há mais de três anos na província de Cabo Delgado ganhou uma nova escalada há cerca de duas semanas, quando grupos armados atacaram pela primeira vez a vila de Palma, a cerca de seis quilómetros dos multimilionários projetos de gás natural.
UE anuncia apoio
A União Europeia (UE) vai enviar quase 7,9 milhões de euros para responder à crise humanitária causada pelo terrorismo no norte de Moçambique, num pacote de 24,5 milhões para a África Austral e região do Oceano Índico.
A ajuda humanitária da UE a Moçambique, num financiamento de 7,86 milhões de euros, "procura dar uma resposta às consequências humanitárias do conflito no norte" do país, segundo um comunicado da Comissão Europeia.
A frágil situação humanitária na província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, continua a deteriorar-se, recorda o executivo comunitário, sendo que a escalada da violência deslocou internamente mais de 670.000 pessoas.
Estima-se que pelo menos 1,3 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária imediata.
Atrasos e perdas nos projetos do gás
A violência em Cabo Delgado e o atraso das operações das petrolíferas que exploram o gás natural da zona pode custar ao Governo moçambicano 2,5 mil milhões de dólares (2,1 mil milhões de euros) nos 25 anos de concessão.
"De acordo com um relatório preparado pelo Ministério da Economia e Finanças de Moçambique, num cenário de um atraso de 18 meses e aumento das despesas de investimento em 20% nas exportações de gás da Área 1, haverá uma redução da receita do Governo na ordem dos 6%, quase 2,5 mil milhões de dólares durante os 25 anos de vida do projeto", dizem os consultores da NKC African Economics.
Numa análise especial à violência em Cabo Delgado, enviada aos investidores e a que a agência Lusa teve acesso, estes analistas da filial africana da Oxford Economics escrevem que "o atraso no início das exportações de gás natural liquefeito da Área 1 vai não apenas atrasar os benefícios económicos resultantes destas exportações, mas também reduzir as receitas governamentais".
Na nota enviada aos investidores a NKC African Economics diz que os recentes ataques comprovam a previsão de que as exportações de gás não vão começar em 2024, conforme está previsto.
"Acreditamos que a terceira retirada de Afungi aumenta a probabilidade de a nossa previsão para o início das exportações estar correta, e vamos manter o segundo semestre de 2025 no nosso cenário de base", que mantém também a continuação dos projetos, já que estas empresas estão habituadas a operar em cenários instáveis.(x) Fonte: DW