Responsável por programas de desminagem dos Estados Unidos alerta que Moçambique, já declarado livre de minas, pode voltar a ser contaminado por explosivos, o que requer "limpeza sustentável" e capacidades do governo.
"Para qualquer programa de desminagem, é importante saber que existe sempre o risco de contaminação residual", disse em entrevista à agência Lusa Michael Tirre, gerente de programas do Escritório de Remoção e Redução de Armas, parte do Departamento de Estado dos EUA.
O apoio dos Estados Unidos da América nas atividades de desminagem ou atividades humanitárias de ação contra as minas em Moçambique terminou em 2015, quando o país se declarou livre de minas antipessoais, depois de 23 anos em que foram fornecidos ao país africano 34,7 milhões de dólares (29,2 milhões de euros).
Segundo dados do Departamento de Estado norte-americano, Moçambique recebeu, de 1992 a 2015, um apoio total de 56 milhões de dólares (47,1 milhões de euros) provenientes de diversas agências do governo norte-americano, um "verdadeiro esforço interagências", nas palavras de Michael Tirre.
Limpeza sustentável
Tendo em conta que "existe sempre o risco de contaminação residual", o responsável afirmou que "é muito importante, uma vez que o apoio internacional tenha terminado, para o governo local ter essa capacidade de limpeza sustentável em vigor".
"Tanto o governo local quanto os operadores internacionais têm de conduzir pesquisas muito completas e meticulosas em todo o país para determinar os perímetros desses campos minados", referiu o especialista.
O Escritório de Remoção e Redução de Armas do Departamento de Estado dos EUA foi um importante parceiro para a "estabilização e recuperação pós-conflito" de Moçambique
"A extensa contaminação por minas terrestres bloqueava estradas e infraestruturas críticas, impedia que os deslocados internos e refugiados voltassem para casa com segurança e também obstruía o desenvolvimento económico", recorda.
Com as atividades do Departamento de Estado, mais de 20 quilómetros quadrados de terra foram limpos para serem "devolvidos ao uso produtivo". Aos resultados acrescentam-se mais de quatro mil quilómetros de estradas desminadas, 74 mil minas terrestres destruídas, assim como 71 mil itens de artilharia.
Segundo Michael Tirre, Estados Unidos forneceu ainda treino de desminagem humanitária e equipamentos para os soldados sapadores moçambicanos e apoiou o Instituto Nacional de Desminagem de Moçambique, cuja extinção foi anunciada em março de 2019.
Desminagem na fronteira do Zimbabué
Apesar de não haver mais nenhum projeto corrente em Moçambique do Escritório dos EUA de Redução e Remoção de Armas, as atuais atividades de desminagem na fronteira do Zimbabué podem ser benéficas também para moçambicanos que vivem perto da fronteira e que frequentemente se deslocam para visitar familiares, obter serviços clínicos ou para fazer trocas comerciais, acrescentou Michael Tirre.
Os Estados Unidos já investiram mais de quatro mil milhões de dólares (3,37 mil milhões de euros) em mais de 100 países desde 1993. Mais de 509 milhões de dólares foram dirigidos para África, em apoio a 37 países para construção de paz e crescimento económico.
Segundo Michael Tirre, os EUA ajudaram 26 países de todo o mundo a "localizar e destruir minas terrestres e outros perigos explosivos, proteger civis e a vida selvagem, restaurar terras para uso produtivo e estabelecer as condições mais gerais para o desenvolvimento sustentável".
Em 2020, os Estados Unidos financiaram esforços de destruição de armas convencionais em 49 países, com mais de 259 milhões de dólares.
, depois do fim da guerra civil, em 1992, sublinhou Michael Tirre.(x) font : DW