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quarta-feira, 14 abril 2021 08:42

Moçambique: "Comunicação social está a ser emboscada"

A propósito do Dia do Jornalista Moçambicano, que se comemora a 11 de abril, o Presidente de Moçambique afirmou que "o jornalista moçambicano não deve ser reprodutor de vontades contrárias à nossa unidade" e sugeriu que "o jornalismo deve ser veículo de transmissão de informação fidedigna, valores de patriotismo".

Contudo, os princípios da profissão não estipulam nem unidade nem patriotismo, mas sim valores como verdade e independência. Convidado a comentar os apelos de Filipe Nyusi, o especialista em comunicação social e colaborador do MISA-Moçambique, Ernesto Nhanale, disse que o Presidente "fez o pronunciamento muito na perspetiva do que lhe interessa, que é a imagem que ele quer construir da governação"."Quando diz isto não é do ponto de vista da necessidade de garantir a verdade e o pluralismo. Está a fazer uma avaliação ao jornalismo que tem estado a cobrir outros temas que tem estado a prejudicar a imagem dele. A análise e os pronunciamentos do chefe de Estado têm esta tendência de parcialidade e tentar colocar o jornalismo neste patamar em que o bom jornalismo é aquele que reporta a favor do Governo", conclui.

Os pedidos do estadista são feitos numa altura em que o jornalista é privado, de forma geral, de exercer livremente a sua profissão no contexto do terrorismo em Cabo Delgado. As escassas coberturas da situação são feitas sob o olho das autoridades e os órgãos escolhidos a dedo, desencadeando queixas de exclusão por parte da imprensa privada nacional. Neste quesito não há unidade, mas Filipe Nyusi pede-o noutros.

Comunicação social sob assalto

O jornalista Fernando Lima, proprietário do semanário Savana, questiona o pedido do estadista: "Acho isso controverso e problemático. Qual é a unidade que devemos ter? Com corruptos, ladrões e desonestos ou unidade com as pessoas que querem o desenvolvimento, corajosas, que não fogem aos combates?"

"O que é ser patriota, é lutarmos para haver cada vez mais exclusão no país?", pergunta ainda Fernando Lima. "Fica muito difícil termos esse tipo de agendas consensuais quando pela porta de trás os jornalistas, a comunicação social está a ser assaltada, emboscada com legislação e normas que restringem cada vez mais a nossa profissão".

Em época de guerra, o poder político dá sinais de querer pressionar a comunicação social a disvincular-se dos princípios éticos e deontológicos que orientam a atividade para obedecer outras agendas. Como pode o jornalista lidar com a situação?

"Saudosismo bafiento"

"Ainda acredito que pode haver uma conversa franca com o poder político", diz Fernando Lima. "Às vezes quer me parecer que ainda há muita ignorância sobre os valores e pilares do jornalismo. Mas acho que também há uma grande incompreensão em relação a definição do próprio jornalismo, não há jornalismo moçambicano, jornalismo americano, jornalismo alemão, há jornalismo".

Por tudo isso, o jornalista vê sinais de retrocesso na prática do jornalismo identificando o que considera de "saudosismo bafiento que nos quer fazer voltar ao passado, ao tempo do partido único, da repressão, da coação sobre os órgãos de comunicação social". (x) fonte : O País

Fonte:Contudo, no dia 11 de abril, Filipe Nyusi não deixou de elogiar e reconhecer o papel do jornalista moçambicano em tempos de Covid-19 e até mesmo nos contextos do terrorismo e ataques armados da Junta Militar dissidente da RENAMO no centro do país, exaltando-o pelo seu "rigor, profissionalismo e patriotismo".(x) fonte: DW

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