Analistas dizem que o apelo do presidente moçambicano, Filipe Nyusi, no sentido de os jornalistas serem patriotas e promotores da unidade nacional não faz sentido, porque o Governo acaba de submeter ao Parlamento a proposta de Lei de Comunicação Social e Radiodifusão, que poderá restringir a actividade jornalística em Moçambique.
"Eu penso que o Presidente da República só está a fazer política, porque tudo o que os jornalistas fazem é pela pátria, e no exercício da sua actividade, não devem recolher informações para fornecê-las ao Estado, e isso não faz com que eles deixem de ser patriotas", afirmou o jornalista e investigador Borges Nhamirre, para quem os jornalistas devem lutar para que a comunicação social "não seja agredida pelo poder político".
Nhamirre avançou ser curioso que este apelo seja feito numa altura em que o Parlamento se prepara para debater a proposta de Lei de Comunicação Social e Radiodifusão, submetida pelo Conselho de Ministros, realçando que "este pedido não faz nenhum sentido."
Ele falou também de perseguições e detenções de jornalistas, deplorando sobretudo o facto de, em muitos casos, os processos contra os profissionais da comunicação social serem politizados, "como aconteceu com Amade Abubacar, que foi detido por militares e mantido na cadeia durante muito tempo".
Por seu turno, o jornalista e editor do Mediafax, Fernando Mbanze, diz não ser justo pedir aos jornalistas para serem patriotas, porque todo o seu trabalho se guia pelos valores do patriotismo, "pelo que, muito provavelmente, o Presidente da República não compreende o que é que significa ser patriota".
"Os jornalistas são os principais promotores da unidade nacional", realçou aquele jornalista.
Mbanze não tem dúvidas de que o apelo do Chefe de Estado tenha a ver com a cobertura que os jornalistas fazem à situação em Cabo Delgado, sublinhando que " quando eu digo que houve ataque à vila de Palma e que as forças de defesa e segurança demonstraram algumas dificuldades para conter a acção dos atacantes, eu estou a ser patriota". (x) Fonte: VOA