Mia Couto disse, hoje, estranhar o surgimento repentino de vários especialistas no mundo sobre o terrorismo em Moçambique e que nem conhecem Cabo Delgado. O escritor defendeu ainda que agora não é altura de encontrar culpados pelo drama, porque isso gera aproveitamentos que dividem a nação.
A província de Cabo Delgado tem vindo a ser notícia em todo o mundo pelas piores razões. Mia Couto não deixa de estranhar, que subitamente, estejam a surgir especialistas que pouco conhecem Moçambique, mas ousam explicar o fenómeno terrorismo em Cabo Delgado. “Eu estranho que haja tantos especialistas, no mundo, que estão a mais de 20 mil quilómetros de distância e vem nos explicar o que se está a passar em Cabo Delgado. É estranho que surjam tantos especialistas sobre os nossos assuntos internos”, surpreendeu-se para depois avançar que é séptico em relação à intervenção militar estrangeira em Moçambique, o que na sua visão pode colocar em causa a soberania do país.
“Quanto a esse assunto o país já respondeu com uma só voz. Nenhum país encontrou numa intervenção estrangeira uma solução miraculosa. Não será por trazermos tropas estrangeiras, que de repente, a situação vai se alterar profundamente. É preciso que nos inspiremos no que foi feito em Palma. O nosso exército foi capaz de dar resposta àquela situação. Esse é o caminho…obviamente com apoio, mas uma assistência como já foi dito pelo Presidente da República, da qual não abdicamos da nossa soberania. Temos que ser nós a dizer aos outros onde queremos que nos ajudem”, defendeu.
Quanto ao envio de cerca de 3 mil homens proposto pela equipa técnica criada Troika da SADC, assunto que ainda vai a debate, Couto foi mais receptivo, mas deixou um conselho. “Acho que a intervenção militar não deve ser vista como algo técnico. É evidente que os países da região conhecem melhor a sua própria geografia, a geografia humana, tem capacidade de criar maior entrosamento com as comunidades, mas há que se perceber que este é um assunto humano e não meramente técnico”, advertiu.
Mia Couto disse ainda que este não é momento de procurar culpados, mas sim soluções. “Não é altura de fazer essa análise, porque nesse processo há aproveitamentos que são feitos que nos desunem. Essa é uma análise para mais tarde, quando já tivermos vencido esse demónio que entrou dentro da nossa casa. Aí sim, podemos procurar o que falhou”, terminou o escritor que falava à margem do lançamento da VII edição do Concurso Jovem Criativo 2021.(x) Fonte: O País