Os ataques de 24 de março levaram à fuga de, pelo menos, 30 mil pessoas da vila de Palma. O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) está preocupado com a crise humanitária e pede mais fundos.
Em entrevista à DW, a oficial de Relações Exteriores do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) diz que faltam meios para ajudar os cerca de 700 mil deslocados da violência na província moçambicana de Cabo Delgado. Neste momento, conseguir abrigos em condições para todos os deslocados é uma "necessidade fundamental", sublinha Juliana Ghazi.
A situação torna-se ainda mais complicada porque, segundo a responsável, há vários locais a que as organizações humanitárias não conseguem ter acesso.
DW África: Qual o trabalho que o ACNUR está a desenvolver no terreno?
Juliana Ghazi (JG): Temos atendido os deslocados internos que foram forçados a se deslocarem na província de Cabo Delgado, mas também estão indo para as províncias de Nampula, da Zambézia ou do Niassa. Os ataques de 24 de março provocaram mais de 30 mil deslocados internos, é o último número oficial, e a situação em Palma ainda está muito complicada. Há muitas pessoas a tentar sair de lá. O ACNUR não tem presença fixa em Palma – nem nenhuma organização humanitária tem de momento por uma questão de segurança – mas estamos a tentar negociar um acesso para chegar lá e atender às necessidades principais dessas pessoas. Enquanto isso, fornecemos assistência aos deslocados internos que chegaram aqui a Pemba, principalmente. Quase 50% são crianças, 31% são mulheres, então, são grupos muito vulneráveis.
DW África: O ACNUR dispõe de todos os meios necessários para acudir os mais necessitados?
JG: Falta financiamento tanto para o ACNUR como para outras agências humanitárias. Dos nossos requerimentos [conseguimos] ter apenas 20% de financiamento. Então, é preciso mais engajamento e mais verbas para que possamos dar resposta a cada vez mais pessoas deslocadas.
DW África: Quais são os maiores problemas?
JG: Palma foi uma situação que gerou um grande número de deslocados internos, mas é preciso lembrar que esta crise já se arrasta há [vários] anos. 90% dessas pessoas são abrigadas pela população local, só 10% estão em assentamentos que são montados pelo Governo e nós, como ACNUR, fazemos a análise – as realocações são feitas de uma forma voluntária, de uma forma digna, para que as pessoas deslocadas saibam para onde estão a ir. Mas somente 10% dessas pessoas estão em assentamentos, e isso cria uma pressão muito grande nas comunidades locais. Por exemplo, agora com a Covid-19, vemos às vezes casas com 20 ou 30 pessoas num espaço pequeno, e essa questão do abrigo é uma necessidade fundamental neste momento. [É preciso] entender como responder a esses deslocados internos e à população local, para que todos recebam assistência, e conseguir que os assentamentos tenham condições melhores para receber essas pessoas – [verificar] se há condições de abrigo, de saneamento básico, distribuição de comida e posteriormente de meios de subsistência. A necessidade principal é fazer com que esses assentamentos estejam mais preparados para receber os deslocados internos da melhor maneira possível.
DW África: Já falou no início que o acesso de organizações humanitárias como o ACNUR é muito limitado. Como é que isso se repercute no terreno?
JG: Infelizmente, o acesso a algumas áreas ainda é muito complicado, principalmente pela questão da segurança. As agências humanitárias estão sempre em diálogo com o Governo para tentar chegar a essas áreas de mais difícil acesso, até porque sabemos que muitas pessoas ainda estão nessas áreas. Infelizmente, é ainda uma grande questão que estamos a tentar resolver, para chegar e assistir essas pessoas que estão em Palma ou noutros lugares e que precisam imensamente de ajuda.(x) Fonte:DW