O escritor Mia Couto afirmar que sozinho Moçambique não consegue responder à vaga de violência que se vive na região de Cabo Delgado. Perante a dimensão da tragédia, o escritor admite que aos moçambicanos só resta “pedir socorro”.
Em entrevista à Renascença, Mia Couto chega a afirmar que é “mais grave do que a pandemia” aquilo que se passa em Cabo Delgado.
“Têm chegado diariamente relatos de violência em Moçambique, na região norte de Cabo Delgado. A população foge da violência, há notícias de decapitações.
Como é que vê o que se passa em Cabo Delgado”, perguntaram-lhe.
“Isto é um drama que temos dificuldade em compreender que esteja a acontecer em Moçambique. É um drama numa proporção que é bem mais grave do que a pandemia
da Covid-19. Nós temos todos os dias sinais de que isto não é uma guerra que se faz e que se ganha por via militar.Não temos nenhuma possibilidade de entrar em negociação com estas pessoas que estão todos os dias degolando, desmembrando ou usando uma violência que não tem nome. Isso causa-nos um sentimento de impotência enorme. A primeira grande tentação é pedir socorro”.
“O contorno e a dimensão que esta agressão tem faz adivinhar que sozinhos não seremos capazes de fazer face a isto”.
“É necessária uma intervenção internacional?”.
“Sem dúvida. O que está aqui em causa não é Moçambique, nem Cabo Delgado. O que está aqui em causa é toda a Humanidade e o respeito pela vida. Já não digo o respeito pela democracia, mas o respeito pela vida humana. É isso que está em causa. Estas pessoas, nem sequer sabemos lhes dar um nome. Chamamos insurgentes, agora chamamos terroristas, mas o ponto é que não percebemos se há aqui um projecto político que é claro e
com o qual se possa dialogar. Neste caso, não existe a possibilidade de dialogar com o outro lado”.(x) Fonte: Moz24h