A ONG CDD criticou esta segunda-feira (12) o Presidente de Moçambique por não ter informado o Parlamento sobre a entrada de militares do Ruanda para combater grupos armados no norte do país.
"Nem a Assembleia da República, órgão de soberania representativa de todos os moçambicanos, foi informada sobre a vinda de militares estrangeiros" para o norte do país, referiu a ONG Centro para a Democracia e Desenvolvimento (CDD), numa nota de análise.
A organização observa que o Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, anunciou a chegada de militares e polícias do Ruanda numa parada militar na sua terra natal, no distrito de Mueda, província de Cabo Delgado, para onde será enviado o contingente ruandês.
Além da presença de tropas ruandesas, o chefe de Estado explicou que a província vai ainda contar com a atuação de militares dos países da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC).
Nyusi fez o anúncio na sexta-feira (09.07), já depois de o Governo de Kigali ter divulgado o envio de mil militares e polícias para Moçambique, para o combate "ao terrorismo em Cabo Delgado".
O anúncio acontece na altura de pausa entre sessões plenárias da Assembleia da República, não tendo sido convocada nenhuma reunião extraordinária para o debate da presença de militares estrangeiros no país.
Na sua análise, o CDD nota que "até aqui não se sabe quanto tempo irá durar a 'ajuda' [estrangeira] na luta contra o terrorismo e quem vai pagar a fatura".
Interesses da França "acautelados"?
O texto assinala que nem a população da província de Cabo Delgado, cujo apoio será fundamental para o sucesso da missão, está devidamente informada sobre a presença de militares estrangeiros no seu território.
Por outro lado, o CDD entende que a presença de militares ruandeses em Moçambique "acautela" interesses da França, país de origem da multinacional petrolífera TotalEnergies, que lidera o maior investimento privado em África para exploração de gás na zona afetada pelos ataques - investimento suspenso por causa da insegurança.
Grupos armados aterrorizam a província desde 2017, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo 'jihadista' Estado Islâmico, numa onda de violência que já provocou mais de 2.800 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED, e 732.000 deslocados, de acordo com a ONU. (x) Fonte:DW