A ONG Centro para Democracia e Desenvolvimento (CDD) defende que é possível uma solução negocial com o grupo armado que ataca a província nortenha de Cabo Delgado. Analista ouvido pela DW discorda.
Um boletim do Centro para Democracia e Desenvolvimento (CDD), publicado na segunda-feira (26.07), sugere negociações com o grupo armado que tem estado a semear terror na província nortenha de Cabo Delgado.
O CDD diz que não é imperioso que as negociações sejam levadas a cabo pelo Governo. Podem ser feitas por pessoas influentes, como líderes religiosos locais, que conhecem jovens que se juntaram aos extremistas. Segundo a organização não-governamental, também se pode envolver nas negociações académicos, a sociedade civil ou mesmo as próprias Forças de Defesa e Segurança (FDS), que conhecem pessoas influentes dentro do grupo
"Mesmo mulheres...", afirma o editor da publicação do CDD, Emildo Beúla, em declarações à DW África. "Nós sabemos, através de relatos das Forças de Defesa e Segurança, que há mulheres nas suas operações que podem ser usadas para dar início às negociações."
Beúla insiste que este "é um tema importante que o Governo não deve pôr de lado. Vamos apostar na componente militar, mas não se pode deixar de explorar esse lado das negociações. É possível identificar pessoas que estão por detrás dos grupos terroristas."
"Explorar alguns caminhos para negociar o conflito"
Numa altura em que está a decorrer uma ofensiva militar multinacional, o CDD sublinha que a negociação seria o método mais seguro para eliminar a violência no norte de Moçambique.
"Moçambique está a receber apoio da SADC, do Ruanda, da União Europeia, dos EUA, e esse apoio militar pode ajudar a conter a violência, mas não vai resolver o problema", entende Beúla.
Por isso, o editor do CDD defende: "Enquanto decorrem ações militares, devíamos explorar alguns caminhos para negociar o conflito".
O ponto de partida para negociar com os terroristas seria o conhecimento da dinâmica do conflito: "É importante conhecer que tipo de dinâmicas sociais, económicas e políticas existiam nessas comunidades, quem são as pessoas influentes e onde estão, sobretudo os líderes religiosos - acredito que estão nos campos de deslocados - e iniciar o processo de diálogo e tentar perceber o motivo dos jovens abandonarem as suas famílias e juntarem-se a esses grupos."
A via armada é a única?
Mas Egídio Plácido, editor do semanário Zambeze, lembra que é quase impossível negociar com este grupo armado, pois não se conhecem os seus líderes nem as suas intenções.
"Até hoje, ninguém sabe por que motivo estas pessoas estão em Moçambique e quais são as suas intenções. Portanto, a esta altura, na minha opinião, a única via que o Estado moçambicano tem para combatê-los é a via armada", defende.
Egídio Plácido recorda ainda que o grupo armado em Cabo Delgado é muito complexo e tem vários colaboradores: "Essas pessoas estão fechadas em copas, ninguém sabe onde estão, ninguém sabe quem são".
"Algumas pessoas que entrevistei, pessoas que já estiveram com terroristas e alguns tidos como colaboradores de terroristas, dizem que só têm um número de telefone e nem sabem com quem falamos. As pessoas perguntam onde nós estamos, se onde estamos há polícia ou não, e ninguém consegue dizer mais nada", revela o jornalista.(x) Fonte:DW