Após meses de silêncio, o líder da "Junta Militar" da RENAMO, Mariano Nhongo, mostrou-se aberto ao diálogo de paz com o Governo. Mas tem condições: rejeita a intervenção da RENAMO ou das Nações Unidas nas conversações.
Mariano Nhongo está disponível para sentar-se à mesa com o Governo da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) para negociar a paz, mas rejeita falar com o presidente da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), Ossufo Momade, cuja liderança não reconhece, ou com o enviado da Organização das Nações Unidas (ONU), Mirko Manzoni.
"A Junta Militar já mandou um documento ao Governo [em 2019] e esperamos que o Governo dê uma boa resposta. O povo vai entender e vai aceitar que eu negoceie com o Governo. Se o Governo me quiser enganar, o povo logo descobre e não vai aceitar que eu vá negociar", afirmou numa entrevista exclusiva à DW África.
Mariano Nhongo também não quer negociar a paz com André Matsangaíssa Júnior, que abandonou o grupo dissidente no início deste ano. "O Governo pode criar uma comissão que vai negociar com a comissão da 'Junta Militar', mas não o traidor. Já chega a traição que ele fez", adiantou.
Apesar de ser acusada de ataques armados no centro do país, que provocaram a morte a pelo menos 30 pessoas, a autoproclamada "Junta Militar" da RENAMO nunca admitiu a sua autoria.
Nhongo incontactável
As negociações para a paz na região falham há vários meses. Segundo o enviado especial da ONU, Mirko Manzoni, tem sido difícil entrar em contacto com Mariano Nhongo para falar sobre o processo de Desarmamento, Desmobilização e Reintegração (DDR) dos homens da autoproclamada "Junta Militar".
Alguns membros daquela organização têm estado a abandonar o grupo.
Em junho, o presidente da RENAMO, Ossufo Momade, anunciou na cidade da Beira que o partido estava novamente "unido".
"A RENAMO é um partido coeso. [Não há] nenhum elemento da RENAMO que esteja fora. Havia uma tendência [no passado], mas neste momento estamos juntos", garantiu.
"Junta Militar" está para durar
O líder da "Junta Militar" diz que não se deixa abalar com as deserções no seu grupo, garantindo que tem efetivos suficientes para realizar novos ataques, embora não seja essa a via que pretende seguir - Nhongo quer dialogar.
"A 'Junta Militar' ainda existe e existirá para sempre, nunca irá acabar, e ainda está a aguardar a resposta do Governo. Caso ele esteja interessado em negociar, a 'Junta Militar' está pronta", asseverou.
O politólogo Zefanias Namburete saúda a disponibilidade do líder da "Junta Militar" para dialogar, mas estranha que Mariano Nhongo não queira falar com o enviado da ONU.
"Cada qual é livre de escolher quem quer que melhor o represente. Mas penso que, mais do que qualquer tipo de intervenções nesta situação, o mais importante é que Mariano Nhongo tem vontade de negociar. Este é um potencial que deve ser explorado", considera Zefanias Namburete.(x) Fonte:DW