O antigo estadista esteve, hoje, a falar da reconciliação nacional e apontou o dedo às academias, dizendo que estas têm o papel de educar para a cultura de paz. Embora haja apetrechamento das bibliotecas nacionais em livros e mais pessoas a formarem-se, tão pouco são encontradas pessoas com conhecimento nos bairros, diz Chissano.
O antigo Presidente da República, Joaquim Chissano, Dom Dinis Sengulane, bispo da Igreja Anglicana e o académico José Castiano juntaram-se à mesma mesa para falar do tema “Reconciliação Nacional”, numa conferência promovida pela Universidade Pedagógica de Maputo e pelo Instituto Superior de Artes e Cultura.
O antigo estadista defende que deve haver perdão e não se buscarem culpados pelos erros. Mais, diz que as universidades pecam por colocar livros nas bibliotecas e aumentar o número de pessoas formadas, entretanto no dia-a-dia, pouco se encontram pessoas com conhecimento.
“Vamos a Lhanguene, vamos para o bairro Jardim, Xipamanine e não encontramos esse conhecimento das universidades que terá sido adquirido anos e anos”, exemplifica o estadista, realçando que, além do papel educativo das universidades, as famílias têm a responsabilidade de também educar as futuras gerações para o perdão e a paz.
Dom Dinis Sengulane, por sua vez, vai mais longe e diz que os esquemas de corrupção no país revelam que atingimos um nível de podridão no que à paz e reconciliação diz respeito. Explica que a reconciliação não deve ser feita com pressa.
Avança, também, que é preciso que haja sensibilidade às preocupações dos outros e que o diálogo não deve ser feito só para resolver conflitos, como também para prevenir.
Entende que a paz é resultado do diálogo, da reconciliação e da prevenção para que ela não seja beliscada.
“O diálogo é a chave para quem queira lançar qualquer semente de paz”.
José Castiano, académico e vice-reitor da Universidade Pedagógica de Maputo, diz ser necessário desarmar as mentes, porque sem que isso aconteça, nenhum acordo de paz será efectivo. Aliás, para si, os acordos políticos só têm servido para o perdão ou tréguas, mas a ideia da paz não chega ao resto dos moçambicanos.
“Os acordos assinados são muito importantes, mas eles somente desarmam as mãos. Porém, a reconciliação é um processo que visa desarmar as mentes. E como tal, penso que é um processo profundamente educativo”, diz o académico, para quem não se pode construir uma reconciliação nacional com dois exércitos e tão pouco com armas no mato.
Castiano considera que já há passos dados com o processo de Desarmamento, Desmobilização e Reintegração dos homens da Renamo, mas não há, ainda, firmeza para que se tenham certezas. (x) Fonte: O País