A NATO está reunida na tarde desta quinta (13), depois de os Estados Unidos e a Grã-Bretanha terem anunciado o envio de tropas a título provisório para o Afeganistão no intuito de terminar de evacuar os seus cidadãos e diplomatas, perante o avanço rápido dos Talibãs por todo o país. Os insurgentes controlam já mais de dois terços do território afegão e, no espaço de uma semana, apoderaram-se de cerca de metade das 34 capitais provinciais do país.
O secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, preside uma reunião dos embaixadores dos países da Aliança cujo assunto central são as modalidades da "evacuação" do país, isto depois de Washington e Londres terem anunciado ontem o envio de milhares de soldados a Cabul para evacuar os seus diplomatas ou cidadãos ainda presentes no terreno.
Os Estados Unidos, cuja retirada deve estar concluída a 31 de Agosto, anunciaram que "vão reduzir ainda mais" a sua presença diplomática" em Cabul nas próximas semanas. Neste sentido, ao esclarecer que "não se trata de um novo envolvimento no conflito", os americanos anunciaram que vão enviar 3 mil soldados rumo à capital afegã, para se juntarem aos 650 que ainda lá estão, para efectuar a evacuação dos seus diplomatas, o Pentágono indicando ainda que vai posicionar outros 3.500 militares no Koweit para eventualmente intervir no caso de a situação se deteriorar em Cabul.
No mesmo sentido, a Grã-Bretanha também indicou que vai enviar 600 militares para garantir a segurança da evacuação dos seus cidadãos e diplomatas baseados no Afeganistão.
No terreno, nada incita os ocidentais ao optimismo.
Os insurgentes reivindicaram ainda ontem a conquista de Lashkar Gah, capital da província de Helmand no sul, de onde as autoridades referem estar a evacuar as suas tropas e oficiais civis, assim como Kandahar, a segunda maior cidade do país, localizada 150 quilómetros mais a leste.
Esta sexta-feira, os Talibãs referem não ter encontrado resistência ao tomar o controlo de Chaghcharan, capital da província de Ghor, no centro do país, sendo que afirmam igualmente ter em mãos a cidade de Pul-e-Alam, sede da província de Logar, apenas 70 quilómetros a sul de Cabul.
Neste cenário em que os rebeldes já controlam boa parte do norte, oeste e sul do país, resta ao campo governamental pouco mais do que 3 grandes cidades, a capital Cabul, Mazar-i-Sharif no norte, e Jalalabad no leste.
Daí que os Talibãs não tenham demonstrado até agora qualquer inclinação para a negociação. Ontem terminou em Doha, no Qatar, mais uma ronda de discussões, sem nenhum resultado, apesar de os Estados Unidos, o Paquistão, a União Europeia e a China terem ameaçado ontem num comunicado conjunto não reconhecer nenhum governo "imposto pela força" no Afeganistão.
Neste contexto, os Estados Unidos têm estado sob o fogo cruzado de críticas. O executivo afegão tem acusado Washington de o ter abandonado. Aliado tradicional dos Estados Unidos, Londres não deixou igualmente de emitir críticas. “Achei que não era a decisão certa ou o momento certo e, é claro, a Al-Qaeda provavelmente vai regressar” ao Afeganistão, lamentou esta sexta-feira o ministro britânico da Defesa, Ben Wallace.
Em causa está a confirmação por Joe Biden no passado mês de Maio de que as tropas americanas iriam concluir a sua retirada no final de Agosto, após 20 anos de presença no país, muito sangue derramado e biliões de Dólares investidos em material e formação para as tropas afegãs, em vão. Uma decisão que vem na directa linha do acordo assinado em Fevereiro 2020 entre os Talibãs e os Estados Unidos, em que o então ainda presidente americano, Donald Trump, se comprometia a mandar retirar os seus contingentes do Afeganistão.
De acordo com a ONU, no espaço de um mês, pelo menos 183 civis foram mortos e 1.181 feridos, incluindo crianças, em Lashkar Gah, Kandahar, Herat e Kunduz, as Nações Unidas contabilizando igualmente cerca de 400 mil deslocados este ano, 80% sendo mulheres e crianças, concentrados na zona de Cabul em condições de grande precariedade.(x) Fonte:RFI