A chegada dos talibã a Cabul irá retroceder as conquistas feitas no Afeganistão nos últimos 20 anos ao nível dos direitos humanos. Pedro Neto, diretor-executivo da Amnistia Internacional Portugal avança que os retrocessos já estão a acontecer e que as principais vítimas são as mulheres.
“A paz e a calma em Cabul é uma calma podre, diria assim. É uma calma que vem sobretudo do medo. As pessoas já não vestem t-shirt na rua, vestem os trajes à maneira dos talibã, as mulheres já não andam na rua e portanto essa calma é porque as pessoas estão recolhidas, é uma calma falsa.”
O diretor-executivo da Amnistia Internacional Portugal avança que os relatos que chegam à instituição não trazem novidades, e correspondem a um escalar de violações dos direitos humanos que tem vindo a acontecer com a conquista de várias cidades por parte dos talibã
“São relatos normais e semelhantes aquilo que víamos quando os talibã estavam no poder: casamentos forçados, execuções sumárias, pena de morte a existir na prática, crianças a serem recrutadas – não só pelos talibã, também pelas forças militares governamentais – para serem crianças soldado e vemos uma discriminação clara às mulheres, principalmente naqueles que são os territórios controlados pelos talibã”, afirma em entrevista à SIC Notícias.
As mensagens que têm vindo a ser divulgadas pelos talibã e que apontam uma mudança de postura face ao regime anterior, é para Pedro Neto “cosmética de fazer de conta”, considerando – apesar de ser uma pessoa otimista – que realidade será igual ao antigo.
Critica ainda a falta de uma resposta por parte dos diverso países para ajudar as mulheres e crianças que serão as principais vítimas deste regime.
“Vejo discursos de proteger que trabalho com os países, com as embaixadas, mas não vejo essa abertura a receber outras pessoas, nomeadamente as mulheres e as crianças que já são as principais vítimas e que serão as maiores vítimas nestas nova lei. As mulheres e as crianças já estão a sofrer discriminação, abusos de direitos humanos, estão a ser vítimas”, avisa.
Para Pedro Neto, um resposta conjunta da a União Europeia “é difícil”, devido às diferentes posições de países como Áustria, a Polónia e Hungria. No entanto, o diretor da Amnistia Internacional defende a necessidade de criar rotas seguras para que os cidadãos afegãos possam ficar em segurança sem atravessar as arriscadas rotas do mediterrâneo.(x) Fonte:SIC