O Presidente do Ruanda disse que o apoio militar a Moçambique para combater o terrorismo em Cabo Delgado é totalmente suportado por recursos próprios, negando ter financiadores como a França ou a petrolífera Total.
Numa entrevista à televisão pública ruandesa RBA, o Presidente do Ruanda, Paul Kagame, afirmou: "Até agora, estamos a usar os nossos meios. Temos meios decentes que estamos satisfeitos em poder partilhar. Não há ninguém a patrocinar-nos".
O chefe de Estado respondia a uma pergunta sobre um eventual financiamento da França ou da Total, que tem sido suscitado por vários analistas, tendo em conta o investimento em Cabo Delgado para exploração de gás, interrompido em março devido ao aumenro da insurgência no norte de Moçambique.
Trata-se do maior investimento privado da atualidade em África, da ordem dos 20 mil milhões de euros.
"Não há ninguém a patrocinar-nos. Digo isto em frente ao ministro das Finanças: ele sabe quanto é que [a intervenção] nos está a custar. Mas acho que os resultados valem mais que o dinheiro", acrescentou.
A rapidez de resposta do Ruanda também tem levantado questões - ao ir para o terreno antes da força conjunta da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) -, levando Kagame a ironizar: "Há um vizinho com a casa a arder" e "aquele que chega primeiro é questionado: porque é que foi tão rápido a apagar fogo? (...) Nunca tinha visto isto".
Ruandeses entre os terroristas
O chefe de Estado destacou o facto de haver outras petrolíferas envolvidas nos investimentos em gás natural e, por outro lado, justificou-se também com a presença de ruandeses entre os "terroristas" presentes em Cabo Delgado - mas sem outros detalhes.
O Presidente ruandês espera que os investidores do gás "voltem ao trabalho, porque isso significa muito para Moçambique", disse, acrescentando que "depois da missão [pelos militares] e de a região estar segura", será feita "nova avaliação" e os objetivos serão ajustados "de acordo com as intenções de Moçambique".
Em resposta a outra questão, especificou que, até agora, as forças deslocadas pelo Ruanda são suficientes - além de que haver um envolvimento crescente de outros parceiros, nomeadamente da SADC com uma força conjunta de vários países no terreno.
"A nossa missão não está ligada a recursos nem a outras coisas, é só para tornar a zona segura" e assim apoiar Moçambique, porque "há muito para fazer, um parceiro não chega", dado o grau de destruição em Cabo Delgado, concluiu.
Reconquistas com apoio ruandês
O Ruanda é o quinto país que mais contribui para operações de paz das Nações Unidas, com um total de cerca de 5.100 elementos.
A nível bilateral, tem desde o início de julho cerca de mil militares e polícias em Cabo Delgado para apoiar Moçambique que entraram em ação antes da força conjunta da SADC - que anunciou na última sexta-feira estar totalmente operacional.
Os militares ruandeses e as forças moçambicanas reconquistaram no início de agosto a vila de Mocímboa da Praia, sede de distrito, considerada por muitos a "base" dos grupos insurgentes que têm protagonizado ataques armados em Cabo Delgado desde 2017.
O conflito armado entre forças militares e insurgentes naquela província nortenha de Cabo Delgado já provocou mais de 3.100 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED, e mais de 817 mil deslocados, segundo as autoridades moçambicanas.(x) Fonte:DW