Grupos armados atacaram na quinta-feira (23.09) aldeias no sul da província de Cabo Delgado, provocando pelo menos quatro mortos. Um autocarro que de manhã tinha transportado militares foi alvejado, mas não há vítimas.
As zonas atingidas, nos distritos de Quissanga e Meluco, ficam distantes das áreas em que as tropas de Moçambique com apoio do Ruanda e da missão da África Austral têm anunciado reconquistas de território e desmantelamento de bases rebeldes, situadas a nordeste da província.
Um residente da aldeia de Lindi disse à agência Lusa ter testemunhado a chegada de elementos armados desconhecidos que, na quinta-feira (23.09), pelas 17 horas, queimaram casas e viaturas e que o levaram a fugir para Ancuabe. Durante a ação, viu pelo menos uma pessoa ferida, sendo que vizinhos que esta sexta-feira (24.09) se juntaram em Ancuabe relataram a morte de uma criança e três adultos.
Fonte das forças locais disse à Lusa que na mesma região, em Iba, distrito de Meluco, houve uma emboscada por desconhecidos contra um veículo de caixa aberta de transporte de pessoas e bens.
O ataque aconteceu ao pôr-do-sol, pouco depois das 17 horas numa estrada de terra batida e provocou dois feridos, internados no hospital de Meluco, sendo um deles uma mãe que levava ao colo um bebé de seis meses.
Veículo atacado
Segundo a mesma fonte, um autocarro que na quinta-feira (23.09) de manhã tinha transportado militares de Pemba para Macomia, vila no centro da província, foi alvejado quando regressava vazio para a capital provincial.
O veículo foi atacado já durante a noite, na Estrada Nacional 380 (única via asfaltada que liga o norte ao sul de Cabo Delgado), junto a Namoja, perto do rio Montepuez, numa faixa adjacente aos ataques anteriores. O veículo não parou, conseguindo chegar a Pemba para ser reparado.
Apesar das tentativas, a Lusa não conseguiu obter esclarecimentos por parte das autoridades de defesa e segurança moçambicanas.
Cabo Delgado é uma província rica em gás natural, mas alvo de ataques armados desde 2017, sendo alguns reclamados pelo grupo extremista "Estado Islâmico".
O conflito já provocou mais de 3.100 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED, e mais de 817 mil deslocados, segundo as autoridades moçambicanas.
Desde julho, uma ofensiva das tropas governamentais com o apoio do Ruanda, a que se juntou depois a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), permitiu aumentar a segurança, recuperando várias zonas onde havia presença de insurgentes, nomeadamente a vila de Mocímboa da Praia, que estava ocupada desde agosto de 2020.(x) Fonte: DW