Congregações oraram pelo fim da instabilidade em Cabo Delgado nas comemorações do dia do Acordo Geral de Paz. Religiosos sugerem análise profunda para encontrar soluções duradouras e compreender as causas do conflito.
Os crentes de diferentes religiões exteriorizaram através de orações e cânticos, esta segunda-feira (04.10), em dia de comemoração do Acordo Geral de Paz, a sua profunda preocupação com o conflito armado que se vive nas zonas norte e centro da província de Cabo Delgado há cerca de quatro anos.
"Ficamos magoados pela violência que aflige a zona norte de Cabo Delgado, pela tragédia que vivem centenas de deslocados e pelo número enorme de pessoas obrigadas a deixarem as suas casas e tudo o que possuíam, e viajar e pé ou de barco para encontrar refúgio longe do ruído das armas", referiu Anita Buanayaque da comunidade Sant’Egídio, em Pemba.
Os religiosos aproveitaram a ocasião para pedir atenção e vigilância aos crentes de modo a não permitirem que determinados grupos pratiquem crueldades em nome das religiões.
"As religiões podem ter um papel importante para alcançar a paz e lutar contra os conflitos levados em frente em nome de Deus", frisou a religiosa.
Procurar as causas
Em entrevista à DW África, o líder religioso Latifo Fonseca encorajou as autoridades moçambicanas a prosseguirem as suas ações com vista ao fim do terrorismo e estabelecimento da paz em Cabo Delgado.
"Tem de haver trabalho de base para compreender quais são as causas e dar soluções. Resolvermos os problemas que levaram ao surgimento desse terrorismo. Temos que resolver as fragilidades: educação para todos, emprego para todos. Diminuir as desigualdades e todos os fatores que contribuem para os terroristas aproveitarem-se [para implantar-se]", frisou o responsável.
Latifo Fonseca apelou também às populações locais para não ficarem distraídas e que se mantenham vigilantes contra quaisquer ações de desestabilização.
Nyusi convida terroristas a entregarem-se
Esta segunda-feira em Maputo, durante um discurso à nação por ocasião, o Presidente da República, Filipe Nyusi, fez um apelo aos responsáveis pelos ataques armados no país.
"Preocupam-nos os nossos compatriotas, aqueles que voluntariamente aderiram a essa força destruidora, mas outros foram recrutados inocentemente que estão a correr de um lado para outro", disse o chefe de Estado.
Filipe Nyusi fez saber que o desmantelamento das bases Mbau, Siri 1, Siri 2, entre outras, deixou o inimigo em permanente fuga e sem possibilidade de escapatória.
"Queríamos convidar para que eles, sozinhos, não esperem a morte por perseguição. Não é essa a intenção das Forças de Defesa e Segurança (FDS). De uma forma ordeira, entreguem-se para não serem atingidos inocentemente, porque não têm aonde ir", apelou.
O chefe de Estado convidou ainda o líder da autoproclamada Junta militar da RENAMO, Mariano Nhongo, a aderir ao processo de desmobilização, desarmamento e reintegração (DDR) em curso no país.
"Mariano Nhongo, que não fique também à espera para que algo estranho lhe aconteça. Essa seria a maior desgraça para nós. Volte para nós", sublinhou o Presidente.
A região de Cabo Delgado tem sido alvo de ataques terroristas que mataram e desalojaram milhares de pessoas, deixando aldeias inteiras totalmente inabitadas desde o dia 5 de outubro de 2017.
Na próxima terça-feira (05.10), passam-se quatro anos desde o primeiro ataque registado em Mocímboa da Praia, distrito mais a norte da província.(x) Fonte: DW