O Governo moçambicano e a SADC avaliam esta terça-feira (05,10.), numa cimeira em Pretória, África do Sul, a missão militar conjunta de combate à insurgência em Cabo Delgado.
O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, participa na cimeira extraordinária do Órgão da Troika da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), alargada a Moçambique e países contribuintes com efetivos na missão em Moçambique (SAMIM, na sigla em inglês).
A cimeira "irá apreciar o relatório de progresso das operações da SAMIM desde o seu desdobramento em julho de 2021 e deliberar sobre ações futuras, no quadro dos esforços em curso visando o combate ao terrorismo na província de Cabo Delgado", lê-se em comunicado da presidência moçambicana.
A Troika do Órgão de Cooperação nas áreas de Política, Defesa e segurança da SADC é presidida pela África do Sul e tem como vice-presidentes a Namíbia e o Botsuana.
Nyusi será acompanhado pelo ministro do Interior, Amade Miquidade, e pelo vice-ministro dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, Manuel Gonçalves.
Aumento da segurança
Desde julho, uma ofensiva das tropas governamentais com o apoio do Ruanda, a que se juntou depois a SADC, permitiu aumentar a segurança, recuperando várias zonas de Cabo Delgado onde havia rebeldes, nomeadamente a vila de Mocímboa da Praia, que estava ocupada desde agosto de 2020.
A SAMIM anunciou estar totalmente operacional desde 3 de setembro.
Juntando forças de diferentes países, a missão serve um mandato de seis pontos centrado em apoiar o Estado moçambicano a tornar segura a província de Cabo Delgado e dar apoio aéreo, marítimo, logístico e de treino militar, recorda-se no comunicado.
O mandato inclui ainda o apoio às operações humanitárias.
Missão da SADC carece de objetivos específicos
O especialista em estratégia militar sul-africano, Abel Esterhuyse, numa entrevista à Lusa, defendeu o esclarecimento dos objetivos a alcançar pelas tropas da SADC.
"Julgo que é importante diferenciar três aspetos críticos: a capacidade militar da SADC para realizar operações, a natureza da insurgência que estamos a enfrentar em Cabo Delgado e o que estas forças deveriam estar a fazer no terreno", afirmou.
"Na minha opinião, existe uma questão crítica por esclarecer neste momento sobre o que é que as forças da SADC devem estar a fazer precisamente em Cabo Delgado", acrescentou.
O analista sul-africano, responsável pelo departamento de Estudos Estratégicos da Faculdade de Ciência Militar da Universidade de Stellenbosch, no Cabo, questionou também se a expectativa da operação militar da SADC no país vizinho é fazer "contra-insurgência", lidando com a instabilidade e insurgência locais ou "se estão lá no terreno para prestar apoio às Forças Armadas moçambicanas em termos de formação".
"Até agora vimos que foram relativamente eficientes em mobilizar parte das forças, porque o grande contingente das Forças Armadas sul-africanas não se encontra até ao momento na área, é ainda um grupo de forças embrionário, trata-se apenas de um contingente de forças especiais porque ainda não destacaram as forças principais", salientou.
A província de Cabo Delgado é rica em gás natural, mas aterrorizada por rebeldes armados, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.
O conflito já provocou mais de 3.100 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED, e mais de 817 mil deslocados, segundo as autoridades moçambicanas.(x) Fonte:DW