Mais de dois mil mortos, aldeias e vilas abandonadas e em ruínas e cerca de 800 mil deslocados é o balanço provisório do terrorismo em Moçambique, que começou há cerca quatro anos na província de Cabo Delgado.
Os ataques terroristas em Cabo Delgado começaram em Mocímboa da Praia, exactamente na madrugada de 5 de Outubro de 2017, quando a população comemorava os 25 anos da assinatura do Acordo Geral de Paz.
Segundo contam alguns sobreviventes, o primeiro tiro foi disparado contra o posto de controlo da Polícia, na aldeia Awasse, há cerca de 40 quilómetros da vila de Mocímboa da Praia, e quase ao mesmo tempo, foi assaltada a esquadra distrital da PRM, depois o quartel das Forças de Defesa e Segurança e, mais tarde, a cadeia distrital onde foram soltos quase todos os prisioneiros.
A maior parte dos sobreviventes do primeiro ataque terrorista a Mocímboa da Praia tinha fugido para as matas e os poucos, que ficaram em casa, quase que impotentes, mas com coragem de gravar vídeos, só saíram à rua no dia 9 de Outubro, quando o grupo armado abandonou a vila.
Segundo dados oficiais, durante o primeiro ataque, perderam a vida quase 20 pessoas, entre civis, agentes da Polícia e supostos membros do grupo armado.
O Sheik Tauha sobreviveu ao primeiro ataque a Mocímboa da Praia, mas, no segundo assalto à vila, não escapou. Segundo contam testemunhas, o homem foi decapitado em 2020, um ano depois de ter gravado uma entrevista, na qual contou uma parte da história daquele que é considerado o primeiro ataque terrorista em Moçambique, e que deixou toda a população da província, do país e do mundo em pânico e completamente aterrorizada.
Depois do primeiro ataque armado a Mocímboa da Praia, tudo parecia estar a voltar à normalidade, mas cerca de um mês depois, o grupo armado começou a protagonizar assaltos em várias aldeias da província de Cabo Delgado, que ficaram completamente abandonadas.
No dia 3 de Outubro de 2018, cerca de um ano depois do primeiro ataque a Mocímboa da Praia, o Tribunal Judicial da Província de Cabo Delgado começou com o julgamento dos primeiros réus suspeitos de terem participado directa ou indirectamente do primeiro ataque terrorista à vila de Mocímboa da Praia.
Dos cento e oitenta nove arguidos, um perdeu a vida na cadeia, cerca de cem foram condenados a penas de prisão, entre 8 a 24 anos, e 130 foram absolvidos por insuficiência de provas.
Desde que iniciaram os ataques terroristas, a Procuradoria Provincial remeteu ao Tribunal Judicial da Província de Cabo Delgado quase dez processos-crimes relacionados com os ataques terroristas.
Alguns perderam a vida sem ser ouvidos pelo juiz, outros foram absolvidos, e os restantes condenados pelos crimes de homicídios, crime contra organização do Estado, associação para delinquir, porte ilegal de arma de fogo. Porém, até hoje, pouco ou quase nada se sabe sobre a origem e as motivações do grupo armado que chegou a ocupar e a controlar um território durante quase um ano.
Os ataques terroristas mais horríveis e assustadores foram registados entre 2019 e 2020, quando o grupo armado assaltou as três sedes distritais em menos de um mês, começando por Mocímboa da Praia, tendo-se depois de ocupar a vila, reunido com alguns sobreviventes e deixado um aviso à população, bem como ao Governo.
O segundo ataque a Mocímboa da Praia foi no dia 23 de Março de 2020. Dois dias depois, no dia 25 de Março, o alvo foi a sede do distrito de Quissanga, onde foi gravado um vídeo na residência do administrador do distrito e publicado nas redes sociais.
Depois de Quissanga, o alvo dos ataques terroristas foi a sede do distrito de Muidumbe, onde, mais uma vez, o grupo armado voltou a gravar e a publicar um vídeo supostamente feito em combate.
A última sede distrital alvo de ataque e que ficou temporariamente sob o controlo do grupo armado foi a vila de Palma. O assalto ocorreu a 24 de Março do corrente ano, e dezenas de pessoas, entre nacionais e estrangeiros, foram decapitados, e quase tudo ficou destruído. Devido à insegurança, um dos megaprojectos de exploração de gás na Bacia do Rovuma, liderado pela Total, foi suspenso.
Quatro anos depois, o terror continua em Cabo Delgado, mas o número de ataques armados reduziu em Julho deste ano, com a entrada das Forças Armadas do Ruanda, e dos países da África Austral, que decidiram ajudar Moçambique no combate ao terrorismo.
Desde que iniciaram as operações militares conjuntas, foram resgatados vários reféns e quase todas as zonas, que haviam sido ocupadas pelo grupo armado, foram libertadas, mas foram encontradas quase em ruínas e algumas delas continuam inóspitas.(x) Fonte:OPaís