O Centro para a Democracia e Desenvolvimento (CDD) entende que é preciso falar com os jovens que se alistam nas fileiras dos terroristas para perceber as causas do conflito na província moçambicana de Cabo Delgado.
O Centro para a Democracia e Desenvolvimento (CDD) encoraja as ações das Forças de Defesa e Segurança, e das tropas estrangeiras, no combate ao terrorismo no norte e centro de Cabo Delgado.
Mas, segundo o diretor do CDD, Adriano Nuvunga, é preciso ir além da resposta militar e planear uma intervenção para o desenvolvimento das zonas afetadas.
"Aqui passa primeiro pelo respeito aos direitos humanos, incluindo dos deslocados internos. O seu direito ao regresso às suas terras, o direito que têm de ver as suas zonas não somente a desenvolver em termos de infraestruturas, mas também com redes socioeconómicas a serem restabelecidas", explica.
Diálogo com insurgentes
Desde outubro de 2017 que a região é assolada pelos ataques terroristas. Com apoio militar estrangeiro, as Forças de Defesa e Segurança conseguiram deter o avanço dos insurgentes e devolver o clima de segurança às regiões, outrora palco de confrontos armados.
Agora, Adriano Nuvunga diz que é preciso entender as causas do conflito e explorar a via do diálogo com o grupo atacante.
"Afinal, o que é que se passou? E como é que se pode ter uma mesa para discutir com todos aqueles que estavam desavindos para com o estado de ordem e tranquilidade que se assistia? Quem eram eles afinal? O que estão a dizer é que é importante perseguir militarmente as pessoas, mas é preciso encontrá-las. É preciso pegá-las, chamar as pessoas para que se possa dialogar. Esta deve ser, no nosso ponto de vista, a forma de o Estado moçambicano abordar este e outros conflito", sublinha.
Questionado pelos jornalistas à margem de um workshop, na cidade de Pemba, sobre como seria efetivado o diálogo com um grupo que ainda não apresenta rosto nem reivindicações, o diretor da organização da sociedade civil defendeu que se fale com os jovens que aderem ao grupo.
"Muitos são vítimas, são pegados nas suas comunidades e treinados. Então, têm que ser tratados como vítimas. Precisamos de melhorar o nosso entendimento de qual é o problema e, a partir daí, vamos então compreender onde está o problema e esses vão levar-nos aos atores. E os atores aqui são aqueles que estiveram na linha da frente."
Desenvolvimento das comunidades locais
A promoção do desenvolvimento nas comunidades locais é também uma das soluções que o CDD propõe para o conflito de Cabo Delgado.
Neste ponto, as autoridades do município de Pemba, capital da província de Cabo Delgado, concordam com a organização.
"A riqueza é nossa. E para que a riqueza seja nossa, precisamos de jovens, homens e mulheres formados. Para evitar que eles sejam desviados para atividades ilícitas, sobretudo o terrorismo, precisamos de abraçar seriamente a formação profissional, para evitar que os jovens reclamem em todo o momento que não têm emprego", salientou o edil de Pemba, Florete Mutarua.
O autarca lembra, no entanto, que "para haver emprego é preciso que haja competência e qualificações dos jovens".
"Neste momento, o conselho municipal está apostado em selecionar os jovens criando uma parceria com as associações, empresas nacionais e internacionais para contribuirmos para o desenvolvimento de Moçambique", rematou.
O workshop sobre o conflito em Cabo Delgado, promovido pelo CDD, arrancou esta quarta-feira em Pemba e estende-se até amanhã (14.10).(x) Fonte:DW